De cara nova: Quinta Avenida, em Nova York, passará por reformas para se tornar mais amigável aos pedestres
10-26 HaiPress
Pedestres caminham sob andaimes na estreita calçada da Quinta Avenida,em Nova York — Foto: Todd Heisler/The New York Times
Muitos nova-iorquinos passaram a evitar um trecho da Quinta Avenida,no centro de Manhattan,eternamente engarrafado pelos carros e pelas hordas de turistas na calçada. Agora,porém,há um plano para restaurar o brilho da via tão famosa,transformando uma porção central dela em um bulevar para pedestres e compras que remete ao Champs-Élysées de Paris,à Calle Serrano de Madri e à Bond Street de Londres.
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A Quinta Avenida abriga prédios comerciais e lojas de luxo como a Rolex e a Harry Winston; é também um importante corredor da cidade,por onde passam mais de 40 linhas locais e expressas de ônibus,levando milhares de passageiros todos os dias. Só que a velocidade desses veículos está entre as menores da cidade.
A proposta de mudança,divulgada em 17 de outubro,envolverá 20 quarteirões ao sul da Rua 60,entre o Central Park e o Bryant Park,ampliando significativamente as calçadas,acrescentando áreas de descanso e plantando mais de 200 árvores — e roubando duas das cinco faixas da avenida.
Projeto mostra como ficará o trecho da Quinta Avenida,em Nova York,após as obras para ampliação e reurbanização das calçadas — Foto: Divulgação / Prefeitura de Nova York / via The New York Times
O projeto foi desenvolvido por um comitê formado por autoridades locais,empresários e gestores dos parques no fim de 2022,depois do fracasso das iniciativas anteriores,incluindo a que criava uma faixa exclusiva para os ônibus. Há pelo menos dois governos municipais se tenta reimaginar uma saída para o corredor.
Em Nova York,o desenho urbano é normalmente polêmico,com grupos opostos brigando por cada centímetro de espaço público. Se,por um lado,o anúncio contou com o apoio dos que valorizam melhorias para o pedestre em uma via caótica,por outro atraiu as críticas dos motoristas,para quem o trânsito vai piorar; dos usuários dos ônibus,que o encararam como um retrocesso em relação ao plano anterior de criação de uma faixa exclusiva; e dos ciclistas,que querem uma ciclovia.
— Um processo exclusivista gerou um plano incompleto,que beneficia as butiques de luxo,mas ignora o trabalhador que tem de chegar ao emprego. A Quinta Avenida deveria ser um corredor de ônibus,dando prioridade à segurança e à liquidez de fluxo do transporte público,dos serviços de emergência,dos pedestres e dos ciclistas — afirmou Danny Pearlstein,porta-voz do grupo de defesa Riders Alliance.
Apesar disso,alguns especialistas e planejadores urbanos afirmam que é um bom começo da discussão sobre a necessidade de mais espaços abertos e melhor mobilidade,incluindo ciclovias mais bem protegidas nas partes mais congestionadas da cidade. Kate Slevin,vice-presidente executiva da Associação de Planejamento Regional,que defende a remodelação,disse esperar que "o plano vá além do esperado,inspirando soluções em longo prazo para as ruas adjacentes".
De acordo com Madelyn Wils,presidente interina da associação que administra as melhorias comerciais da região,mesmo antes da pandemia o movimento já estava fraco por falta de público:
— As calçadas são lotadas demais,há muitos obstáculos,faltam bancos e áreas verdes. Uma reforma priorizando o pedestre vai aumentar o trânsito a pé,o que por sua vez vai valorizar os imóveis e aumentar as vendas,além de gerar mais taxas e arrecadação para os cofres públicos.
Ônibus passam pela Quinta Avenida,em Manhattan: via tem um dos trânsitos mais pesados da cidade de Nova York — Foto: Todd Heisler/The New York Times
Segundo Ya-Ting Liu,gestora municipal dos espaços públicos,mais de 5.400 pedestres por hora,em média,passam pelas quadras do trecho central da avenida durante o horário de pico de fim de tarde — número muito maior que o de motoristas e ônibus —,que têm de se espremer em um naco desproporcionalmente pequeno da via:
— A Quinta Avenida tem 30 metros de largura; as calçadas dos dois lados ocupam 14,e as faixas,16. Segundo o novo projeto,as primeiras serão expandidas para chegar a 20 metros,e as segundas,reduzidas a dez. Na verdade,para nós é uma questão de equilíbrio,de finalmente dar ao pedestre o espaço de que precisa.
O projeto deve custar mais de US$ 350 milhões,valor que será desembolsado pelas iniciativas pública e privada.
Em 2020,o então prefeito Bill de Blasio anunciou a intenção de criar uma faixa exclusiva para os ônibus na Quinta Avenida,restringindo drasticamente o tráfego de carros para agilizar o transporte público entre as Ruas 34 e 57,mas o projeto foi posto na geladeira indefinidamente no ano seguinte,devido à oposição dos comerciantes. Hoje,ela conta com duas faixas para ônibus e três para carros — e,segundo a nova proposta,manteria apenas uma para os ônibus,com a segunda convertida em faixa comum. A prefeitura esclareceu,que na realidade os carros já a compartilham para entrar nas transversais.
Duas das três faixas de automóveis serão removidas,inclusive a que volta e meia fica bloqueada por caminhões descarregando e carros que encostam; não haverá expansão da ciclovia,mas a da Sexta Avenida ganhará uma segunda faixa.
Segundo Aaron Donovan,porta-voz da Autoridade Metropolitana de Transporte,responsável pelos ônibus,o alto escalão da agência está reavaliando o plano:
— Sim,sabemos que a melhor maneira de agilizar o fluxo dos coletivos é lhes dando uma faixa exclusiva.
Pedestres na Quinta Avenida,uma das vias mais movimentadas de Nova York,que poderá ganhar calçadas mais largas,mais arborizadas e com pontos de descanso — Foto: Todd Heisler/The New York Times
Vishaan Chakrabarti,arquiteto por dentro das mudanças e ex-diretor do planejamento urbano de Manhattan,apoia a iniciativa,mas gostaria de ver uma faixa exclusiva para os ciclistas na avenida ou em outro lugar do East Side:
— O West Side sempre foi beneficiado nesse sentido. Acho que isso reforçaria a segurança dos ciclistas na entrada e na saída da região de Midtown.
Com o plano,as faixas de pedestres ficariam mais estreitas,medida de segurança que permitiria uma travessia mais rápida,e mais elevadas,chegando ao nível da calçada,basicamente criando quebra-molas para reduzir o tráfego.
A reunião pública para discussão da proposta será promovida em 29 de outubro,com possibilidade de revisão do desenho inicial,mas,de acordo com a prefeitura,não precisa de aprovação das maiorias,o que poderia bloqueá-la totalmente. As obras estão previstas para começar em 2028.
As calçadas da Quinta Avenida eram muito mais largas até o início do século XX,quando começaram a ser estreitadas para dar mais espaço aos veículos,como conta Samuel I. Schwartz,ex-comissário de tráfego da cidade,que serviu de consultor para a nova obra:
— Na verdade,vai corrigir um erro cometido há um século. Historicamente,o volume de tráfego caiu nas ruas da cidade reformuladas para beneficiar o pedestre,inclusive nos trechos centrais da Broadway,porque o motorista acaba descobrindo rotas alternativas ou opta por outros meios de transporte.