Petróleo e política
01-13 HaiPress
Refinaria de petróleo na Baía de Galveston,em Texas City. — Foto: AFP
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 10/01/2025 - 20:47
Biden proíbe petróleo,Lula defende exploração: impactos contrastantes na COP30
Joe Biden proíbe exploração de petróleo em partes dos EUA,protegendo o oceano e combatendo mudanças climáticas. Artigo científico destaca dispensa de novos poços para limitar aquecimento global. No Brasil,Lula defende exploração na região da Margem Equatorial,ignorando impactos ambientais. Discurso contrário à transição energética resiste,desviando atenção e priorizando lucro imediato. Conferência COP30 será palco de posicionamentos divergentes sobre petróleo.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Em 6 de janeiro,o presidente Joe Biden,assinou decreto proibindo a exploração de petróleo e gás offshore em partes da costa dos EUA. O veto deve impedir novas perfurações na Costa Leste,parte do Golfo do México,e da região costeira dos estados de Washington,Oregon e Califórnia,além do Norte do Alasca. A decisão protege 625 milhões de acres do oceano dos EUA,e foi feita de uma maneira inteligente: em princípio,Donald Trump pode reverter a decisão,mas o processo será demorado e complexo.
Trata-se de mais uma ação no apagar das luzes,uma tentativa de Biden para embaraçar a agenda anticiência que promete dominar o novo governo,já que Trump fala abertamente em retirar os EUA de todos os acordos contra mudanças climáticas e reverter políticas de transição energética. Apesar de mais simbólica do que realmente impactante no mercado de petróleo dos EUA,a medida foi vista com bons olhos pelos cientistas climáticos e ambientalistas do país. O próprio Biden frisou que se trata de um consenso bipartidário,com diversos representantes,tanto democratas como republicanos,a favor da proibição,para proteger comunidades costeiras.
A medida também vai ao encontro de artigo publicado na revista Science em maio do ano passado,que apontava que,para cumprir a meta de contenção do aquecimento global a um máximo de 1,5°C,o mundo deveria dispensar a abertura de novos poços de petróleo: os que existem já produzem mais do que o suficiente – se a meta for para valer.
Enquanto isso,no Brasil,o discurso do governo vai na direção contrária. O presidente Lula vem defendendo,há meses,a exploração de petróleo,com a perfuração de novos poços na região da Margem Equatorial,que compreende cinco bacias,desde o Rio Grande do Norte até o Amapá,incluindo a região da Foz do Amazonas. As desculpas vão desde a alegação de que estamos perdendo protagonismo e mercado para a Guiana Francesa,até a declaração de Lula de que “enquanto não tiver transição energética,o Brasil precisa ganhar dinheiro com este petróleo”. A maior pérola talvez seja a declaração do ministro de Minas e Energia,de que vai vender petróleo “enquanto o mundo consumir”. A biodiversidade da região,os manguezais e recifes,e comunidades indígenas que seriam impactadas não parecem ser prioridade para o governo brasileiro.
O argumento de que não podemos abrir mão da exploração de petróleo porque outros vão explorar de qualquer jeito,e se não formos nós,vamos perder dinheiro e ficar para trás,ou que explorar petróleo agora garante o desenvolvimento do país e depois podemos nos comprometer com a transição energética,é recorrente de negacionistas do clima.
A melhor estratégia usada por grupos contrários ao compromisso da transição energética para conter as mudanças climáticas não é negar totalmente o aquecimento global,mas desviar a atenção da urgência do problema,adiar as ações necessárias,e empurrar o discurso da necessidade absoluta da exploração de combustíveis fósseis para países em desenvolvimento,para que possam equiparar-se aos países ricos. O tom do discurso beira teorias conspiratórias de que os países ricos querem manter o Sul Global longe do petróleo com a desculpa da preservação ambiental. A Petrobrás quer investir US$ 3 bilhões na Foz do Amazonas nos próximos cinco anos. Imagine se este mesmo valor fosse investido em fontes renováveis?
Vai ficar bonito este discurso na COP30,em novembro. Resta aguardar para saber se Lula vai defender abertamente a exploração de petróleo na conferência,e como vai se justificar para a comunidade científica e ambientalista internacional. Talvez deixe a batata quente para a ministra do Meio Ambiente,ou para a folclórica autoridade climática que um dia será criada para decorar alguma porta no Planalto.