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Maioria dos israelenses judeus apoia proposta de Trump sobre realocação de população de Gaza

02-08 HaiPress

Parentes dos reféns isralenses sequestrados pelo Hamas fazem protesto diante de prédio consular dos EUA em Tel Aviv — Foto: Jack GUEZ / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 07/02/2025 - 19:35

Israelenses judeus apoiam proposta de realocação em Gaza

A maioria dos israelenses judeus apoia a proposta de Trump de realocar a população de Gaza. O medo persiste no país devido à situação com o Hamas e reféns. A pesquisa revela que 52% dos judeus apoiam a ideia,enquanto a oposição à solução de dois Estados está crescendo. O plano de Trump recebe críticas,mas é visto como uma pressão para negociações futuras. A proposta desperta controvérsias e incertezas.

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A polêmica declaração do presidente dos Estados Unidos,Donald Trump,sobre um ainda muito mal explicado plano para retirar todos os palestinos de Gaza e retirar todos os estimados 2,2 milhões de palestinos do enclave virou o assunto mais discutido em Israel nos últimos dias. Ao contrário do que aconteceu ao redor do mundo,incluído muitos países árabes aliados dos EUA,em Israel a fala de Trump encontrou eco no governo e,também,na sociedade. Em um país no qual o medo está à flor da pele desde o ataque do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023 e uma grande maioria vive na expectativa da libertação gradual de dezenas de reféns ainda em Gaza,uma pesquisa divulgada pela mídia local indicou que a proposta de Trump conta com o respaldo da maioria dos judeus israelenses.

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De acordo com sondagem do Instituto de Política do Povo Judeu,que ouviu 650 israelenses judeus e 200 israelenses árabes,52% dos judeus entrevistados sobre as declarações do presidente americano afirmaram que se trata de “um plano pragmático que deveríamos tentar seguir”. Entre os árabes,apenas 8% deram a mesma resposta,com 52% classificando a proposta de “imoral” — segundo dados oficiais,dos 10 milhões de habitantes de Israel,7,7 milhões são judeus,2,1 milhões são árabes,e o restante é de grupos minoritários.

Além do apoio entre os judeus do país,o plano de Trump foi celebrado por membros da coalizão governista e até mesmo por dirigentes da oposição.

— Gaza em sua forma anterior não tem futuro. Outra solução deve ser encontrada,e é isso que o presidente Trump está tentando fazer — declarou o ministro das Relações Exteriores,Gideon Sa'ar ao plenário da Knesset,o Parlamento de Israel. — Desde que a migração seja realizada por livre e espontânea vontade de uma pessoa,e desde que haja um país disposto a aceitá-la,não se pode dizer que seja imoral ou desumana.

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Mas países citados por Trump ou Israel como possíveis novos lares dos palestinos — como Egito,Jordânia,Irlanda,Espanha e Noruega — já deram enfáticos “não” à proposta,dizendo que o lugar dos palestinos é em Gaza.

Outros membros do Gabinete também elogiaram a ideia,e o ex-ministro da Segurança Interna,Itamar Ben-Gvir,sugeriu que sua sigla,o Poder Judaico,de extrema direita,voltará à coalizão se o premier Benjamin Netanyahu começar a implementar o plano de Trump para Gaza. Ben-Gvir deixou o cargo em 18 de janeiro por se opor ao acordo de cessar-fogo com o Hamas.

Crianças palestinas desabrigadas olhando para as tendas em meio aos destroços de Jabalia,no norte da Faixa de Gaza — Foto: Bashar TALEB / AFP

Além do apoio à proposta de realocação da população em Gaza — que o secretário-geral da ONU,António Guterres,classificou de “limpeza étnica” —,há também na sociedade israelense uma queda expressiva do alinhamento à chamada solução de dois Estados,que implica a criação de um Estado palestino independente vivendo lado a lado com Israel. Segundo dados do Instituto de Pesquisa de Segurança Nacional,de Israel,atualmente 65% dos israelenses se opõem à solução de dois Estados,e apenas 35% são a favor. Em 2022,a mesma pesquisa mostrou que 49% eram favoráveis à ideia,e 51% se opunham. Depois do ataque de 7 de outubro de 2023,uma minoria ainda fala em paz em Israel.

— O nível de oposição à solução de dois Estados nunca foi tão baixo — explica João Miragaya,Coordenador do Laboratório de História do Sionismo do Instituto Brasil-Israel (IBI),que vive há mais de 20 anos no país. — No imaginário popular israelense,a proposta de Trump é razoável.

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Miragaya acredita que a proposta de Trump “fortalece o governo de Israel” em momentos de sérias dúvidas sobre o futuro do questionado Netanyahu — que é processado por corrupção — e sobre a segunda etapa do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas,que deve começar a ser implementada em algumas semanas.

— Trump acalmou a extrema direita israelense — enfatiza o analista.

Outdoor com um retrato do presidente dos EUA,e mensagem de agradecimento é exibido em fachada de um hotel em Tel Aviv — Foto: Jack Guez/AFP

A sociedade israelense,no entanto,não está mais calma. Em conversas informais,fica claro que o que mais interessa aos israelenses é a libertação de reféns e,embora a revolta com Netanyahu e seu governo por motivos vários seja evidente,muitos ainda apoiam o premier porque têm como objetivo principal a libertação de todos os sequestrados — ou a devolução de seus corpos.

Numa vinícola no norte do país,a menos de um quilômetro da fronteira com o Líbano,Ariel Schneider faz um relato do medo que vive desde o ataque do Hamas,do impacto que a guerra teve em sua vida e de como hoje muitas pessoas estão tão assustadas que chegam ao ponto de apoiar uma proposta como a de Trump.

— [A ideia] foi bem recebida porque é vista por alguns como uma forma de pressionar o Hamas. Muitos se sentiam,até agora,abandonados pelos EUA. Agora sentem que [os americanos] estão do nosso lado — afirma Schneider,que durante mais de um ano conviveu com mísseis passando por cima de sua casa.

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Segundo ele,a maioria da população “sabe que [a proposta de Trump] não é correta,mas a vê como uma forma de pressionar para a segunda etapa do acordo”.

Na aldeia drusa de Yanuch-Jatt,também no norte de Israel,o major reformado do Exército Mudi Saad afirma não ser a favor da proposta de Trump,mas arrisca dizer que,“se perguntarem aos palestinos,muitos vão querer sair de Gaza pela situação (de penúria)”. Ele se preocupa com o impacto que o plano de Trump possa ter sobre os reféns.

— Foi um erro Trump ter falado isso,e poderia prejudicar a situação dos reféns — frisa o major.

Na opinião de Ara Lee,um educador de 70 anos,“os que apoiam a proposta de Trump são de direita e entraram na loucura do presidente americano”.

— Pensar que os palestinos vão deixar suas terras é uma loucura,uma completa loucura. Isso não vai acontecer — afirma o educador,que considera também “uma loucura” imaginar que “algum país vai querer receber essas pessoas”.

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Ara Lee ainda acredita que a solução de dois Estados é o caminho,mas estudos recentes mostram que ele representa uma minoria em Israel. Em palavras de Miragaya,“o 7 de outubro modificou a corrente majoritária israelense”.

O trauma deixado pelo ataque do Hamas é revivido diariamente e,no dia em que reféns são libertados,as emoções são ainda mais fortes. Neste sábado,espera-se a libertação de outros três: Eliyahu Sharabi,Ehud Ben Ami e Or Levi. Ainda faltam mais de 70,e essa é a maior preocupação dos israelenses,que recebem visitantes estrangeiros no Aeroporto Internacional Ben-Gurion com fotos de reféns ainda mantidos em cativeiro e a mensagem que se vê por todo lugar no país: “Tragam-nos de volta”.

* A repórter viajou a convite do Instituto Brasil-Israel (IBI)

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