Corrêa do Lago diz que há uma grande expectativa de participação da sociedade civil na COP de Belém
02-13 HaiPress
Embaixador Andre Correa do Lago,negociador-chefe de Clima do Brasil e subsecretario de Clima e Energia do Itamaraty — Foto: Gesival Nogueira Kebec/Valor
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 12/02/2025 - 21:24
COP30: Desafios e Soluções para o Clima no Brasil
Na COP30 em Belém,o embaixador Corrêa do Lago destaca desafios devido à saída dos EUA do Acordo de Paris. A participação da sociedade civil enfrenta barreiras,mas o Brasil busca soluções. A presidência busca conciliar a exploração do petróleo com a liderança climática. O financiamento climático é um desafio,com a necessidade de envolver a China e garantir a participação da sociedade civil. A diplomacia brasileira busca uma presidência marcante,com foco na transição energética e na proteção das florestas.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
A COP30 é o acontecimento mais importante na diplomacia brasileira,na diplomacia do clima no mundo,no combate à mudança climática este ano. E vai ser,como se sabe,em Belém. O presidente da COP será o embaixador André Aranha Corrêa do Lago. Ele tem uma grande experiência em negociação diplomática e em negociação do clima. É a pessoa certa no lugar certo. Mas há uma montanha de desafios para garantir o sucesso da Conferência. Abaixo,a transcrição da entrevista.
Os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris e isso muda completamente tudo. O medo agora que paira sobre a COP 30 é de um fracasso,porque saiu o maior poluidor,o maior emissor e,ao mesmo tempo,o maior financiador e a maior economia do mundo.
André Corrêa do Lago: Muita coisa muda com essa decisão americana. Primeiro tem um elemento aí ainda de incerteza,porque demora um ano para ele sair. Quer dizer,ele (Trump) já comunicou que vai sair,mas demora um ano,então,os Estados Unidos vão estar em Belém. Agora,qual vai ser o tipo de atuação dos Estados Unidos é o que nós vamos ver ao longo do ano.
Mas realmente é um elemento que muda muito. O que a gente poderia esperar da COP30. Agora,vamos dizer,é como a gente transforma isso em algo que seja construtivo,porque os Estados Unidos não é somente o governo americano.
Nomeação de André Corrêa do Lago: é bem recebida por entidades ambientaisPressão de Alcolumbre e aceno do Planalto: entenda por que Lula se comprometeu a liberar pesquisa na Margem Equatorial
É verdade,os Estados Unidos têm,e a gente viu na outra administração Trump,como os estados e as empresas se comportaram de maneira diferente. Mas neste momento há uma onda contra medidas de combate às mudanças climáticas,contra medidas de inclusão social. Há um fortalecimento dessa ideia negacionista,e isso é um problema para nós.
Corrêa do Lago: Eu acho que está tendo,sim,esse movimento e é muito impressionante a intensidade. Mas acho que é um movimento que não necessariamente está ligado ao negacionismo. Acho que o negacionismo está muito difícil,tendo em vista o ano que o mundo teve no ano passado. Então,na minha avaliação,o que está havendo é uma certa reação de que as ações para evitar a mudança do clima não estão sendo tão positivas para os negócios como se achava que seriam,que certas tecnologias não estão avançando no ritmo que se gostaria. Mas eu acho que tudo isso é altamente discutível. E uma das coisas eu acho que a gente tem que ter na COP é trazer de novo a confiança de que combater a mudança do clima pode ser bom para a economia. Pode ser muito bom também para a qualidade de vida das populações. E é isso que eu acho que o outro time,está,de uma certa forma,ganhando espaço.
Embaixador,o senhor deu uma entrevista à BBC e disse que não há conflito entre o Brasil explorar o petróleo na Foz do Amazonas,na Margem Equatorial,e continuar querendo liderar pelo exemplo da na área da diplomacia do clima. Mas será que não há um conflito mesmo?
Corrêa do Lago: Não é exatamente que não haja um conflito. O que a gente tem que pensar é que os países em desenvolvimento têm opções muito limitadas e a demonstração disso foi a dificuldade no ano passado de conseguir recursos necessários,que a maioria dos analistas considera que seria necessário,para que os países em desenvolvimento pudessem combater a mudança do crime. Então eu acho que o que nós temos que acentuar é que cada país vai ter caminhos diferentes. No caso do petróleo,acredito que é preciso ter um grande debate nacional,porque a gente pode usar o petróleo de uma maneira ou de outra,aliás,de várias maneiras,dependendo do país. Você vê que os países exploram o petróleo de uma maneira diferente,usam o petróleo de maneira diferente e,cada petróleo,emite um pouco mais ou um pouco menos do que outros. Então o que eu acho é que a gente tem que debater como é que nós vamos usar,por exemplo,os recursos do petróleo. Como é que a gente vai assegurar que isso seja um instrumento para a transição? E esse debate eu acho que é muito importante que o Brasil tenha nos próximos meses
A foz do rio Amazonas,área de prospecção de petróleo offshore visada por empresas de Brasil,Suriname e Guiana — Foto: Landsat/Nasa
Eu tinha entendido que na COP de Dubai e na COP de Baku começou a se incluir nos documentos pela primeira vez,a ideia de redução e eliminação futura do uso do petróleo para os grandes emissores de gases de efeito estufa. Agora,o senhor,como negociador,presidente da COP,está dizendo que talvez se use o petróleo como transição,transição para que? A gente tem que se livrar do petróleo...
Corrêa do Lago: Tem muitos especialistas que consideram que se deveria parar a expansão do petróleo imediatamente. Há um grande debate sobre isso internacional. A Agência Internacional de Energia tem sido muito ativa nesse sentido,mas eu acho que a gente tem que lembrar que os países já concordaram que nós temos que fazer uma transição para nos afastarmos dos fósseis. Isso daí já está acordado em Dubai. Ou seja,a famosa frase assim que entrou em Dubai,196 países,então nós já estamos,nós já concordamos que temos que sair dos dos fósseis. Agora tem caminhos muito diferentes. Por exemplo,o Brasil já tem muito mais do que meio caminho andado,porque nós já temos uma energia muito limpa.
Mas,tem muitos países médios que ainda dependem 80% de carvão,ou que são muito mais dependentes do petróleo do que o Brasil. Então,cada país tem que encontrar o seu caminho porque de um ponto de vista econômico,se afastar do petróleo vai ter esses impactos muito diferentes na economia de cada um dos países. Por isso essas decisões têm que ser tomadas pelos países. A decisão Internacional já foi tomada: vamos nos afastar dos fósseis. Todo mundo concordou. Agora,como é que nós vamos fazer isso,de uma maneira?
Que não desequilibre as economias e que não piore a situação das populações. No caso dos países ricos,que tem muita reação e que não impeça a luta contra a pobreza nos países em desenvolvimento.
Crise na sede da COP: Lei que alterava ensino indígena no Pará é revogada após quase um mês de ocupação da secretariaServidores do Ibama rebatem falas de Lula: 'é inadmissível qualquer tipo de pressão política'
Haverá tempo para isso? No ano 2024,a temperatura do planeta chegou a 1,5° de aquecimento em relação à era pré-industrial. A meta era esse limite. E ele já foi atingido. A ciência está nos dizendo que talvez a gente não tenha tempo para esperar tanto para eliminar o petróleo.
Côrrea do Lago: De fato,a ciência realmente está nos avisando que nós temos poucos anos para fazer mudanças muito importantes na maneira como nós administramos os fósseis. Não tenho a menor dúvida,mas a gente também tem que ser realista. E essa transição,eu acho,justamente tem que ser convincente,porque,está tendo um contra ataque,digamos,daqueles que dizem que a gente vai precisar de fósseis muito mais tempo,etcetera. Esse debate tem que ser baseado em informação. E o caso do Brasil é muito específico.
Algumas COPs dão certo,outras não dão certo. Copenhague tinha tanta esperança e depois até porque era o começo do governo Obama,então você tinha o oposto que você tem agora,um governo que era a favor e mesmo assim não se chegou num acordo que só foi chegar em Paris,mas foram plantadas sementes. É o que será a COP do Brasil? Será uma COP de chegada em algum ponto ou de plantar para o futuro.
Corrêa do Lago: Eu acho que vai ser um pouco dos dois. É uma COP que não tem uma expectativa,um resultado que todo mundo esteja olhando e esperando. No caso de Dubai,havia uma expectativa de que houvesse uma frase sobre petróleo no comunicado. Houve. No caso de Baku,havia uma expectativa de que novos recursos financeiros seriam obtidos para os países em desenvolvimento. Mais ou menos,não é? Não ficou. Houve uma certa frustração. Mas não há,uma coisa que se espere na COP30 que você possa resumir que isto seria o sucesso da COP30.
Eu acho que nós brasileiros temos que nos juntar para pensar o que achamos que a COP30 deve obter,não só por esse esforço de combater a mudança do clima,mas também do impacto sobre o Brasil e da melhora das oportunidades que o combate à mudança do clima pode trazer para o Brasil. A gente já conversou sobre isso,a COP tem um tal impacto econômico,as decisões da COP tem um tal impacto econômico,que virou uma negociação realmente de desenvolvimento econômico e de espaço que os países vão poder ocupar nos próximos anos.
E essa nova economia que está cada vez mais se fortalecendo é uma oportunidade incrível para o Brasil. Eu tenho várias pessoas que estão escrevendo coisas super interessantes dizendo que nunca houve uma fase da economia mundial que passasse com tantas oportunidades para o Brasil. Ou seja,eu acho que esse é o grande debate no Brasil. Como é que nós vamos pegar esse trem,que está passando numa velocidade razoável pela estação Brasil,para a gente realmente passar a ter um papel muito mais importante na economia mundial.
O senhor disse que florestas devem ser um tema importante,ainda que não esteja marcado como o tema principal. A COP sera feita dentro da Amazônia. O senhor tem expectativa de criação de novos mecanismos de proteção ou de desenvolvimento? Porque têm surgido novidades muito interessantes na área de proteção de florestas.
Corrêa do Lago: Sim,florestas eu acho que nós estamos tentando reunir as melhores ideias e nós estamos também reunindo alguns ótimos economistas brasileiros e estrangeiros para criar de certa forma um conselho de economistas porque nós precisamos de vozes que não sejam a ciência que já está plenamente escutada,a política que também já está sendo escutada,mas eu acho que falta ainda ouvir mais os economistas para encontrarmos caminhos para o clima e para os países em desenvolvimento. Porque os países desenvolvidos,como você sabe,estão,sobretudo agora,com o tipo de medidas que os Estados Unidos estão tomando,os países desenvolvidos já tem várias opções e estão tomando decisões e defendendo seus interesses. Se nós não defendermos o nosso interesse,ninguém vai defender o nosso interesse. Então,é por isso que eu acho que tem que ter uma posição muito sólida.
Mas você fala que o Conselho de Economistas é para a sua presidência ou um Conselho de Economistas que esteja estruturalmente dentro da COP?
Corrêa do Lago: Para a presidência brasileira. Mas nós estamos pegando economistas,estrangeiros,que contribuem sobre os grandes estudos sobre financiamento e clima,que tiveram um impacto. Tem um estudo do G20 indiano,tem um estudo do G20 brasileiro e também,recentemente,teve um estudo que foi apresentado em Baku,com base no qual apareceu o número do 1.3 tri. Então,você já começa pegando quem já está pensando nisso.
A ministra do Meio Ambiente,Marina Silva,discursa na COP29 em Baku,no Azerbaijão — Foto: Solange Barreira/Observatório do Clima
Tem uma distância enorme entre o que eles ofereceram em Baku,os mais ricos,os que vão financiar essa transição dos países mais pobres,dos países em desenvolvimento — de US$ 300 bilhões anuais até 2035 — para o valor que se pediu que foi US$ 1,3 trilhão. Como que o senhor vai trabalhar essas distâncias e como é que,o que se pode esperar da COP30 nessa linha de definir qual o tamanho do financiamento possível?
Corrêa do Lago: O Brasil está olhando para isso de maneira muito realista. Não vai ser uma decisão de uma COP,do Acordo de Paris,na Convenção do Clima,que vai instruir os organismos internacionais financeiros,o FMI,etc.,a trabalhar nessa questão de financiamento. Então,nós estamos trabalhando também em todos esses outros organismos. Por isso,nós vamos ter,um apoio claríssimo do ministro da Fazenda,que está muito empenhado nisso,o presidente do Banco Central também,nós já conversamos,E eu acho que vai ser importantíssimo nós usarmos todas as oportunidades deste ano de reuniões da área financeira,da área de investimentos,para trabalhar essa questão. Não vai ser apenas uma decisão na COP que vai todo mundo fazer. São outros atores que vão fornecer esses recursos.
Como você diz,a quantia é absolutamente gigantesca. Então,no fundo,o que nós precisamos é que nos fluxos já existentes,tanto de investimento como de financiamento para os países em desenvolvimento,nós temos que incluir o clima como algo natural,algo que esteja embutido nesses fluxos. Nós não vamos poder criar fundo que cheguem a US$ 1,3 tri. Eu acho que seria uma ilusão total. Então,esse esforço vai envolver muito mais gente do que a negociação em si. Então,o que nós vamos ter que apresentar,Brasil e Azerbaijão,que era a presidência anterior,nós fomos a uma resolução de que nós temos que apresentar um plano para isso. Nós temos que apresentar um relatório de como nós podemos passar dos US$ 300 bi para US$ 1,3 tri. Para adicionar mais um pouco de preocupação,mas eu acho que é importante a gente saber,a decisão dos US$ 300 bi não é boa,porque os países desenvolvidos foram muito complicados em Baku. Já havia a eleição do Trump,então os demais países envolvidos queriam ter o mínimo de responsabilidade possível. Então os 300 bi estão muito relativizados. É uma decisão difícil.
Lembrando que o grande financiador,EUA,sai do acordo. E o segundo maior emissor,China,sempre se escudou atrás de que era país em desenvolvimento,ou seja,"eu tenho responsabilidades comuns,porém diferenciadas,eu sou responsável,mas não tanto assim". Só que é o grande restante,do ponto de vista do emissor. Como aumentar o compromisso da China com esse financiamento,com tudo que tem,e com a redução das emissões?
Corrêa do Lago: Pois é,o problema é os países desenvolvidos acharem que eles têm que dar menos e pedir para os grandes países em desenvolvimento para dar mais. Uma coisa é uma coisa,outra coisa é outra. Então,em que sentido? O que a China está investindo dentro do país para combater a mudança do clima,são números absolutamente incríveis,inclusive graças à escala chinesa está caindo o custo de várias tecnologias que vão ser essenciais para o resto do mundo.
O que o Brasil tem investido dentro do Brasil,sem recursos desses fundos etc,climáticos,também é enorme. A esmagadora maioria dos recursos que a gente está usando para combater o desmatamento são recursos nossos,o Fundo Amazônia ajuda,mas é uma porcentagem razoavelmente baixa. As pessoas imaginam que vem tudo de fora,não,absolutamente,é um enorme esforço interno. Então,primeiro,acho que tem que ter um reconhecimento do quanto os países em desenvolvimento,como a Índia,o Brasil,a Indonésia,a China,estão fazendo dentro de casa,sem precisar de recursos internacionais. Então você,além de achar que esse país tem que fazer muita coisa dentro de casa e que eles devem se substituir a países ricos para ajudar os países em desenvolvimento,eu acho que é uma interpretação bastante discutida.
Tem um problema que parece um problema lateral e é um problema central,que é o fato de que Belém tem todas as dúvidas sobre a capacidade de Belém de receber um evento desse,a gente sabe a pressão que é esse evento,mas é o seguinte,os custos de habitação,de hospedagem,estão ficando extorsivos,e aí se afasta quem? Afasta a sociedade civil. Uma COP ela acontece em dois trilhos,tem uma negociação aqui,mas tem uma sociedade civil intensa,que não é só o militante,é às vezes a ONG científica que vai dar uma ideia que vai acontecer lá. O Fundo Amazônia nasce assim,vários outros mecanismos surgem às vezes dessas ideias. Então você pode ter uma COP que vai ser sem sociedade civil ou com pouca sociedade civil por causa dos custos de Belém.
Corrêa do Lago: Temos que encontrar uma maneira. Temos que encontrar uma maneira. E eu acho que,toda a organização da COP está na mão da Casa Civil,que está analisando várias alternativas. E eu acredito que isso vai ser resolvido. A gente tem que lembrar que a maioria das COPs acontece isso. Porque quando decidem fazer uma copa em Glasgow,também em Glasgow não é exatamente uma cidade preparada para receber 50 mil pessoas. A própria Baku. Então os preços tendem a ser muito altos num certo momento e depois tem algum tipo de ajuste. Mas o ponto principal do que você disse,que eu estou totalmente de acordo,é a importância da participação da sociedade civil,isso não pode ser algo que impeça ou atrapalhe a participação da sociedade civil. Porque há uma imensa expectativa de que o Brasil,país democrático,com o presidente Lula,que quer uma grande presença da sociedade civil,esse papel é essencial para essa COP. Então,tem que ser encontrada uma solução. Eu me reuni essa semana com a CAM,que é o maior grupo de sociedade civil que atua na Convenção do Clima e no Acordo de Paris,e o pessoal brincou: olha,temos que conseguir ter um lugar lá,porque realmente os preços estão muito altos e eu tenho certeza que a gente vai encontrar uma maneira. No momento,as pessoas estão animadíssimas e oferecendo preços realmente absurdos.
Exatamente pela escassez da oferta. É por isso que os preços estão tão exorbitantes. E a escassez da oferta é o gargalo de Belém. É por isso que de vez em quando surge a notícia: Vai ser mesmo em Belém?
Corrêa do Lago: Não há dúvida,o presidente tomou uma decisão que tem uma dimensão simbólica,que eu acho que é muito mais forte do que esses obstáculos que realmente existem e que estão sendo contornados. A outra coisa que é muito importante é que o que o governo está fazendo em Belém,tem que também ficar como um legado da COP,não ser um gasto que apenas vai resolver o problema de uma reunião de 15 dias. Então,eu acho que a população,ao final da COP,vai poder dizer: a COP,além de ter trazido o mundo inteiro e a atenção do mundo inteiro para Belém,também deixou uma Belém melhor para a sua população.
Belém é uma cidade maravilhosa,eu amo Belém,amo a comida de Belém,queria muito que fosse capaz de atender a todo mundo. Também acompanhando as COPs,eu vejo que tem vários estilos de presidência,tem a presidência que às vezes atrapalha,a presidência que quer ser muito discreta,a presidência que fica em grande conversa com todo mundo,e às vezes a gente tem a sensação de que não vai adiante,e tem Laurent Fabius,que fez o Acordo de Paris. Foi ele exatamente quando era o ministro das Relações Exteriores,o paralelo que eu vejo é uma diplomacia profissional francesa,diplomacia profissional brasileira. Portanto,a sua escolha como sendo uma chance de fazer uma presidência marcante como essa. Como é que o senhor pensa a sua presidência?
Corrêa do Lago: Eu acho que a tradição do Itamaraty nisso,que começa,na verdade,desde Estocolmo em 1972,na primeira reunião,formou um número muito grande de ótimos negociadores de clima. Eu aprendi com gente incrível,eu estou com uma equipe muito boa no Itamaraty. Então,eu acho que essa tradição tem uma força imensa. Eu concordo com você. A França tem uma diplomacia muito boa e o Fabius botou todo o Ministério das Relações Exteriores em função da COP de Paris. E foi essencial para o resultado ter este tipo de apoio. No Itamaraty,há um grande entusiasmo dos jovens querendo trabalhar na preparação da COP,conscientes que é o maior evento diplomático,num ano que a gente teve um monte de eventos diplomáticos,porque a gente teve um G20 incrível,acho que foi realmente um sucesso muito grande.
O BRICS eu acho que vai ser muito interessante,inclusive toda essa área que a gente está comentando aqui,e finalmente a COP30,mas é um trabalho que a gente está fazendo já há dois anos,quando eu cheguei,e que a gente montou,foi uma decisão deste governo,do presidente Lula,do ministro Mauro Vieira,de fazer uma Secretaria de Clima,Meio Ambiente e Energia,que é a que eu estou dirigindo.
É um grupo bastante grande de diplomatas e muito empenhados e que vai usar não só o Itamaraty,mas também o resto da Esplanada. Quer dizer,no G20 houve uma interação incrível entre os ministérios. Porque a gente trabalhou muito com o Ministério de Minas e Energia,naturalmente com o Ministério de Meio Ambiente,mas também com o Ministério da Fazenda,com o Banco Central,foi realmente muito positivo. Em várias outras áreas também. E clima é tudo hoje. Então o clima está afetando absolutamente tudo. Eu tenho visitado vários ministros e há uma vontade de todos os ministérios de contribuir para esse grupo que vai poder estruturar uma boa negociação.-