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Tretas do Oscar: conheça polêmicas que marcaram história do prêmio antes de 'Emilia Pérez'

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Elenco e diretor de 'Emilia Perez' no Globo de Ouro 2025 — Foto: Robyn BECK / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 17/02/2025 - 16:51

Oscar: Histórias Polêmicas e Cancelamentos

O Oscar sempre enfrentou polêmicas desde os anos 1930,com casos de cancelamento afetando filmes e figuras. Histórias sujas moldam destinos,como o de Emilia Pérez e Karla Sofía Gascón. O evento é uma festa de vaidades sujeita a cancelamentos. Grandes figuras como Orson Welles e Ingrid Bergman foram impactadas por escândalos. Mudanças nas campanhas para o Oscar surgiram,como no caso de Chill Wills. A era de Roman Polanski e Gérard Depardieu trouxe controvérsias. Karla Sofía Gascón enfrenta críticas pré-Oscar,questionando sua vitória. O evento,essencialmente industrial e publicitário,reflete a cultura do cancelamento e intrigas fora das telas.

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O caso de ""Emilia Pérez não é o primeiro em que um escândalo muda o destino de um filme – e suas figuras – no caminho para os maiores prêmios do cinema; a lista de cancelados em Hollywood é longa e começa nos anos 1930.

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O Oscar é uma feira de vaidades. Provavelmente,nos últimos anos,pesou muito mais a segunda do que a primeira,graças à cultura de cancelamento,que,hoje,gera a paradoxal situação de eliminar uma atriz trans por declarações politicamente incorretas de anos atrás. É muito o que se pode dizer sobre o caso Emilia Pérez-Karla Sofía Gascón. No entanto,isso não é novo: a Academia tem um longo histórico de histórias sujas,onde o que acontece fora dos filmesdetermina o destino de um intérprete ou cineasta. O passeio da vergonha é tão longo quanto o da fama.

Embora no cinema mudo várias vezes a moralidade destruiu personagens – o comediante Fatty Arbuckle nos anos 20,por exemplo,a quem acusaram de estuprar e matar uma mulher em uma festa,como é narrado no filme "A Festa Selvagem",de James Ivory –,o assunto toma outras proporções quando se trata do Oscar.

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O prêmio nasceu como uma frente comercial de Hollywood pouco antes da grande depressão,em 1927,quando a censura e os meios conservadores tratavam a meca do cinema como o antro da iniquidade e do vício. Entre outras coisas,uma celebração civilizada entre pares poderia "lavar" essa imagem. Assim,não basta ser um bom profissional,mas também parecer uma inspiração para as massas de espectadores a quem – sejamos sinceros – a Academia sempre viu com um pouco de desdém. Claro que não teve hesitação,em 1929 e com Hitler obscurecendo mentes,em premiar o ator favorito do ditador,Emmil Jannings,por "A última ordem" (naquela mesma edição,o cachorro Rin-Tin-Tin também estava indicado). No entanto,o primeiro caso espetacular de cancelamento apareceria uma década depois.

Havia uma bruxa em Hollywood,a fofoqueira Hedda Hopper. Depois que o prodígio Orson Welles deixou metade dos Estados Unidos atônitos com sua famosa transmissão por rádio de "A guerra dos mundos",a RKO lhe ofereceu um contrato enorme: US$ 1 milhão (uma grande quantia na época,equivalente a cerca de US$ 20 milhões hoje) para atuar,produzir,dirigir,escrever ou fazer a combinação que quisesse,sem intervenção do estúdio. Isso resultou em um filme chamado "Cidadão Kane",que zombava do homem mais poderoso e rico do país,o magnata William Randolph Hearst.

Orson Welles e 'Cidadão Kane'

Cena de "Cidadão Kane" — Foto: Reprodução

Hopper viu o perigo e se virou contra Welles; mas apareceu uma competidora,uma atriz que não havia conquistado muito sucesso,e foi também fofocar para Hearst,Louella Parsons. A guerra contra "Cidadão Kane" foi feroz: Hearst ameaçou com boicotes à RKO e a Hollywood em geral se o filme fosse lançado,enquanto Parsons e Hopper faziam de tudo para se mostrarem como as bruxas contra o garoto de ouro. O filme estreou (Hearst não poderia reconhecer publicamente que era sobre ele; isso teria causado um escândalo monumental),mas com poucas cópias e em programas duplos como um filme de Classe B.

Mesmo assim,teve um recorde de indicações ao Oscar. Mas ninguém queria que Orson Welles vencesse,embora – justo é dizer – o prêmio de Melhor filme tenha ido para outra obra-prima,"Como era verde o meu vale",de John Ford (também vencedor como diretor). Por isso,não apenas deram o prêmio de Melhor trilha sonora para seu músico,Bernard Herrmann – que fazia sua estreia com "Cidadão Kane" –,mas também deram a Welles o prêmio de Melhor roteiro só porque ele o compartilhava com Herman Mankiewicz. Como sabe o leitor,nunca mais Welles conseguiu fazer um filme dentro do prazo e ao seu gosto,embora ainda tenha criado obras-primas como "Soberba" e "A marca da maldade".

Ingrid Bergman apaixonada e grávida

Outro caso notável,também com a ajuda das bruxas Hedda e Louella,foi o de Ingrid Bergman. Não apenas era a maior estrela de Hollywood,mas também uma pessoa que geralmente não se associava a escândalos. Mas ela se encontrou na Itália com Roberto Rossellini e uma paixão imensa surgiu,a atriz abandonou seu casamento e engravidou. Horror dos horrores para Hollywood,que a tratou como uma pária por muitos anos. A atriz foi levada ao escárnio sexual.

Ingrid Bergman e Isabella Rossellini — Foto: Reprodução

A força do cancelamento foi tão grande que Bergman foi declarada persona non grata pelos Estados Unidos,em uma década (os anos 50) em que se tentava um refluxo conservador. As consequências,no entanto,foram outras: ela não apenas foi mãe de Roberto Ingmar e da hoje indicada ao Oscar Isabella Rossellini,mas também filmou obras-primas aplaudidas para sempre,como o extraordinário "Viagem à Itália". Finalmente,porque aquele refluxo conservador já era insustentável,ela retornou aos EUA e,em 1956,depois de filmar com "Helena e os homens" com Jean Renoir,protagonizou "Anastasia - A princesa esquecida". Hollywood perdoou,deu-lhe seu segundo Oscar e a recebeu novamente em grande estilo (ela ganharia um prêmio como atriz coadjuvante por "Assassinato no Expresso Oriente" alguns anos depois). Mas nem todos foram tão afortunados quanto Bergman.

O caso que mudou a campanha para o Oscar

Para os anos 60,Hedda e Louella,com sua cantilena anticomunista (que condenou ao ostracismo nada menos que Charles Chaplin) e os escândalos sexuais,já não tinham peso. A mentalidade americana havia mudado e,logo à frente,estavam o assassinato de Kennedy e o Vietnã. Já havia uma fissura entre uma parte mais conservadora da indústria (representada por antigas glórias como John Wayne) e outra mais progressista. De fato,Wayne dirigiria – com a ajuda de seu amigo Ford – um dos westerns “nacionalistas” mais emblemáticos de Hollywood,"O álamo",que narra a resistência americana naquela fortaleza tomada de território mexicano durante a guerra entre México e Texas,que reduziu o território mexicano.

Era,sem dúvida,um filme nacionalista em um momento em que parte do público,em plena Guerra Fria,buscava uma afirmação de sua identidade. O filme recebeu várias indicações ao Oscar,incluindo para o veterano Chill Wills como ator coadjuvante. A história de Wills é talvez o caso mais triste e patético de “devorador de carreiras”,dado que o que aconteceu com ele não ter nada a ver com política,mas com seu publicitário,um inescrupuloso chamado W.S. “Bow-Wow” Wojciechowicz. De fato,as regras de campanha publicitária para o Oscar mudaram por causa desse caso.

Primeiro,apareceu nos jornais um anúncio sobre a atuação de Wills com uma frase elogiosa tirada de contexto e com o nome da cronista que a escreveu. A cronista,publicamente,escreveu: “Na minha crítica,eu disse que tinha certeza de que Chill Wills ganharia o Oscar,mas agora que usaram minha frase e meu nome sem meu consentimento,perdeu meu voto”. O publicitário voltou à carga: preparou um anúncio com a foto do ator dirigido aos seus colegas de categoria,dizendo: “Ganhe ou perca,saibam que sempre serão meus irmãos”. Groucho Marx respondeu: “Obrigado,senhor Wills,me sinto lisonjeado por me considerar seu irmão. Mas votei em Sal Mineo”.

Para arruinar tudo,houve um terceiro anúncio com uma foto do elenco de "O álamo",onde se dizia “todos rezamos para que triunfe Chill Wills”. O ponto final foi dado por John Wayne: “O anúncio que apareceu ontem foi feito sem meu consentimento. Tenho palavras mais duras para dizer,mas as calo. Tenho certeza de que as intenções do senhor Wills não eram tão más quanto seu gosto”. Wills perdeu para Peter Ustinov,indicado por "Spartacus". E fez muito pouco depois disso em algumas películas e séries de TV.

Polanski,Depardieu e abuso sexual

Aparentemente,nos anos 70 as coisas estavam muito permissivas,porque,embora houvesse polêmicas e disputas,gente nua no palco (o famoso caso do nudista que correu atrás de um atônito David Niven) e melodramas diversos (George C. Scott recusando a indicação e ganhando mesmo assim; Marlon Brando enviando uma falsa indígena para receber seu prêmio por "O poderoso chefão"),as coisas estavam suficientemente bagunçadas para que ninguém se importasse com trapalhadas.

Talvez o problema fosse Roman Polanski,por conta do caso de estupro pelo qual foi condenado,mas ele teve indicações (por "Tess") e até vitória (por "O pianista",já neste século),embora sem aparecer no palco.

O ator francês Gérard Depardieu no Festival Internacional de Cinema de Bruxelas,na Bélgica — Foto: AFP

Em 1994,um filme francês,"Cyrano de Bergerac",de Jean-Paul Rappeneau,recebeu várias indicações,incluindo a de Melhor ator para Gérard Depardieu,que estava com a vitória na mão até quase o final da votação,quando surgiram denúncias contra ele por violação e abuso sexual.

É verdade,hoje ele tem processos abertos por esses mesmos motivos,mas as denúncias nesse caso foram amplamente desmentidas. Depardieu passou a se tornar o primeiro pária da nova correção política,e tanto Cyrano quanto ele mesmo perderiam de forma espetacular na noite de premiação. Embora Depardieu tivesse começado bem em Hollywood (fez "Green Card - Passaporte para o amor",de Peter Weir),ficou marcado para sempre.

Karla Sofía Gascón e 'Emilia Pérez'

Finalmente,temos o caso de Karla Sofía Gascón. "Emilia Pérez" ia ganhar tudo,com o recorde histórico de indicações e a grande oportunidade para que a Netflix conquistasse o prêmio que falta para ser considerada parte do tout-Hollywood,produzir um vencedor do Oscar de Melhor filme. Mas hoje existem os inspetores de redes sociais,e Gascón fez declarações contra o Islã,por exemplo. Ou politicamente incorretas,para dizer o mínimo. E a máquina – que é também uma gigantesca competição entre estúdios por um mercado local de pelo menos US$ 5 bilhões – começou a funcionar. Não apenas por acusações de “representar mal” os mexicanos,mas também pelas declarações de seu diretor,Jacques Audiard. E tudo isso aconteceu antes do fechamento dos votos,então ninguém é inocente.

A espanhola Karka Sofía Gascón,vencedora do prêmio de melhor atriz por "Emilia Perez" — Foto: Reprodução/Instagram

É verdade: algo semelhante aconteceu com James Gunn devido a tweets antigos,o que causou sua demissão da Marvel e da direção de "Guardiões da galáxia" 3. Mas os atores do filme reagiram,o apoiaram e conseguiram que o reinstalassem na cadeira de direção. Isso resultou em Guardiões... ser o único filme de sua assinatura bem-sucedido em 2023,um ano horrível para os super-heróis. Entre os apoiadores estava Zoe Saldaña,indicada como Melhor atriz coadjuvante por Emilia Pérez e (ainda) com chances de ganhar,após seu triunfo no Globo de Ouro. Mas nem ela,nem Jacques Audiard,nem Selena Gomez,nem a Netflix saíram em defesa de Gascón. O desfecho do caso será visto em algumas semanas,mas hoje os favoritos à categoria Melhor filme são "Anora" e "O brutalista". Por isso,nunca devemos esquecer que o Oscar nasceu e sempre foi um evento industrial e publicitário. Alguém falou sobre cinema?

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