Guilherme Leme volta aos palcos com nova versão de 'O estrangeiro', clássico existencialista de Albert Camus
02-21 HaiPress
O ator Guilherme Leme em cena da peça 'O estrangeiro reloaded' — Foto: Victor Pollak/Divulgação
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 20/02/2025 - 16:58
Guilherme Leme: Teatro e Reflexão na Nova Era
Guilherme Leme retorna aos palcos com "O estrangeiro reloaded",uma nova versão da obra de Albert Camus. A peça propõe uma abordagem renovada,explorando a perplexidade existencial do protagonista em um mundo tumultuado. Além disso,o ator também dirige "Realpolitik",que questiona ética e responsabilidade coletiva. A conexão entre as produções reflete a inquietude do artista em repensar a narrativa e a existência humana diante de conflitos e injustiças atuais.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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E lá se vão mais de quatro décadas desde que Guilherme Leme leu,pela primeira vez,“O estrangeiro”,de Albert Camus. O ator tinha 18 anos e custou a assimilar o texto considerado uma das obras-primas da literatura mundial (“Não me bateu tão fundo,sabe?”,ele rememora). Corta para dezembro de 2008. Numa viagem de férias ao lado da amiga e também atriz Vera Holtz por Copenhague,o artista — “já com quarenta e tantos anos”,como o próprio recorda — foi recebido pelo colega dinamarquês Morten Kirkskov para passar o Natal em sua casa. Entre garfadas e goladas,Guilherme notou um cartaz bonito,com palavras indecifráveis (em dinamarquês),pendurado na parede da residência. Tratava-se de uma das imagens de divulgação de uma adaptação teatral de “O estrangeiro” feita,anos antes,por Morten,que logo colocou a dramaturgia nas mãos do brasileiro.
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— Fiquei apaixonado... A adaptação me abriu para o universo do livro,que depois eu li e reli várias vezes — repassa Guilherme,que levou a obra aos palcos,em 2010,numa bem-sucedida montagem dirigida por Vera Holtz que permaneceu quatro anos em cartaz.
Confira atores que decidiram mudar de carreira
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Lídia Brondi abandonou a carreira de atriz após a novela "Meu bem,meu mal",em 1990. Ela quis se dedicar à carreira de psicóloga — Foto: Acervo/Globo e Reprodução/Instagram
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Carla Camurati,conhecida na década de 1980 por novelas como "Sol de verão" e "Fera radical",focou na profissão de diretora e tem trabalhos como "Carlota Joaquina,princesa do Brasil","Copacabana" e "Irmã Vap - o retorno" — Foto: Globo e Reprodução/Instagram
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Susana Werner abandonou a carreira de atriz para se tornar empresária. Ela esteve em "Cara e coroa" e "Malhação"— Foto: Reprodução/Globo e Reprodução/Instagram
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Antes de ser produtora e empresária do meio artístico e trabalhar com o marido,Caetano Veloso,Paula Lavigne iniciou a carreira em novelas da Globo. Ela fez "Brega & chique","Anos dourados","Vale tudo" e "Explode coração" — Foto: Globo e Reprodução/Instagram
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Cecília Dassi desistiu da carreira promissora de atriz aos 23 anos. Com novelas como "Por amor","Suave veneno","O beijo do vampiro" e "Alma gêmea",ela fez seu último trabalho em trama em "Viver a vida". Depois fez faculdade de Psicologia,onde se encontrou e abriu um consultório — Foto: Reprodução/Globo e Reprodução/Instagram
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Davi Lucas começou a carreira ainda criança e fez novelas como "Alma gêmea","Caras & bocas","Fina estampa","Malhação" e "Êta mundo bom!". Ele decidiu cursar Psicologia e trabalha com mentoria — Foto: Reprodução/Globo e Reprodução/Instagram
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Carolina Pavanelli estreou em "Sonho meu" e fez mais tramas como "Quem é você?","Malhação" e "Meu bem querer",além de diversas participações. No entanto,ela decidiu não seguir a carreira de atriz e se tornou professora — Foto: Reprodução/Instagram
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Paulo Guarnieri começou a carreira de ator ainda criança,em "Mulheres de areia" e,ao longo dos anos,fez várias novelas. Ele decidiu abrir um hotel em Paraty,no Rio,e se tornou empresário — Foto: Globo e Reprodução/Instagram
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Daniela Pessoa,que fez a Magali em "Malhação",abandonou a carreira de atriz e se tornou advogada — Foto: Reprodução
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Larissa Queiroz iniciou a carreira como atriz mirim. Ela fez "Sonho meu","História de amor","Por amor","Um anjo caiu do céu" e a minissérie "Chiquinha Gonzaga". Seu último trabalho foi em "Insensato coração". Depois,focou na carreira de chef de cozinha ao estudar Gastronomia — Foto: Acervo/Globo e Reprodução/Instagram
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Publicidade Personalidades mudaram para mais variadas profissões
A história não terminou aí. Quinze anos depois,Guilherme agora volta aos palcos com o mesmíssimo texto,e novamente dirigido por Vera (“Ela estava comigo na Dinamarca no momento em que esse projeto nasceu,e eu jamais deixaria que fugisse de mim”,brinca o ator). O atual espetáculo,porém,é totalmente diferente da primeira versão.
— Não me daria tesão fazer exatamente a mesma coisa. Seria como apresentar um prato requentado. Foi aí que decidimos “recarregar” o texto — explica ele.
Cumplicidade apática
Cena da peça 'O estrangeiro reloaded',com Guilherme Leme — Foto: Victor Pollak/Divulgação
A trama,claro,não muda. Em cartaz no Teatro I do CCBB do Rio de Janeiro até o dia 2 de março — após uma temporada em São Paulo,no último ano —,“O estrangeiro reloaded” acompanha a já conhecida (e enigmática) jornada de Mersault,homem comum às voltas com o absurdo da condição humana depois de receber a notícia da morte da mãe.
Apático em relação ao mundo,o personagem se deixa levar pela correnteza da vida — sempre alheio ao que acontece ao redor de si — enquanto recebe com indiferença as consequências de um crime que comete quase inconscientemente.
— Esse personagem inspira milhões de leituras. E acho que o ideal é deixá-lo em aberto para o interpretarmos da maneira que quisermos — discorre Guilherme,destacando o fato de que “O estrangeiro” foi escrito e publicado durante a Segunda Guerra Mundial. — Isto é muito impressionante nesta obra: mais de 80 anos depois,a gente se encontra praticamente na mesma posição. Existe uma Terceira Guerra em curso,e não totalmente “fria”,em que vemos um monte de conflitos e rebeliões na África,na Europa,no Oriente Médio... Ou seja,a potência de um livro escrito perante um mundo em guerra,na década de 1940,permanece a mesma. Seguimos num planeta em desacordo.
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Diferentemente da primeira montagem,que “foi fundo no personagem”,como diz o ator,a atual abordagem é marcada por um jogo interpretativo que aproxima as figuras de Mersault com os alter egos de Camus e... Guilherme. Foi Vera quem lançou a proposta,algo que “abriu uma chave” para o intérprete,como ele reforça. A crueza da figura fictícia reflete,na visão do artista,a mesma placidez com que as pessoas — e aí Guilherme se inclui — assistem,na contemporaneidade,a notícias sobre bombardeios sangrentos (e reais).
— Quer queira,quer não,a gente é cúmplice das guerras na Ucrânia e na Palestina. A gente está aqui olhando,e o mundo inteiro faz muito pouco para mudar essa realidade. Ficam lá os poderosos fazendo uns acordos que a gente nunca sabe direito o que são. Enfim,a gente vive numa situação absurda! Daí a necessidade de pensar de novo sobre a existência humana — divaga o ator de 63 anos. — Mas será que as coisas estão tão erradas? Ou será que as narrativas em que depositamos tantas crenças estão erradas? Não é tempo de repensarmos,então,a maneira pela qual a História vem sendo contada? Afinal,mudar a narrativa significa transformar uma série de coisas.
Conexão Rio-São Paulo
Os questionamentos também ancoram,de certa forma,o enredo de “Realpolitik”,espetáculo dirigido por Guilherme e simultaneamente em cartaz no Rio (no Teatro Poeira,às terças e quartas,até 26 de fevereiro) e em São Paulo (de sexta a domingo,até o dia 28).
Augusto Zacchi e Pedro Osorio em cena da peça 'Realpolitik' — Foto: Raissa Nashla/Divulgação
A peça escrita por Daniela Pereira de Carvalho — com os atores Augusto Zacchi e Pedro Osorio no elenco — expõe o acerto de contas entre um CEO de uma mineradora às voltas com a ruptura de uma barragem e um jornalista prestes a realizar um ato terrorista na empresa. O encontro entre ambos desperta um debate existencial sobre ética e responsabilidade coletiva.
— Mais uma vez,a questão é a seguinte: o que o homem está fazendo com seu planeta por dinheiro e poder? — frisa Guilherme,que desde 2002 (com “Os adoráveis sem-vergonhas”) desenvolve a faceta de encenador. — Sou um velho ator e um jovem diretor. Às vezes,o jovem diretor tem mais tesão do que o velho ator,sabe? Isso vem de uma curiosidade particular. Nunca fui um ator passivo fazendo só a “minha” parte. Jamais consegui estar no palco sem saber detalhes da luz,do figurino,dos conceitos... Até que estudei artes visuais,por cinco anos,e isso me deu uma potência de criador. Só parei de pintar quadros porque agora faço desenhos em cena. Para mim,o palco é realmente como se fosse uma tela em branco.