Queda na área atingida por incêndios é positiva, mas inspira cautela
04-18 HaiPress
Incêndio próximo à Rodovia Transamazônica — Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo/10-09-2024
Depois do recorde de incêndios do ano passado,é boa notícia a redução de 70% na área atingida por queimadas no Brasil no primeiro trimestre deste ano,em comparação com o mesmo período de 2024. Mas a queda,constatada por meio de imagens de satélite pelo Monitor do Fogo,do MapBiomas,deve ser vista com cautela. Primeiro,porque costuma chover mais nos primeiros meses do ano,especialmente no Norte e Centro-Oeste. Segundo,porque o início de 2025 ainda registra mais incêndios que em 2021,2022 e 2023,ficando atrás apenas de 2019 e 2020.
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Entre janeiro e março,foram queimados no país 913 mil hectares,quase 2,1 milhões a menos que os 3 milhões consumidos pelo fogo no mesmo período de 2024. As chamas destruíram principalmente vegetação nativa. A Amazônia concentrou a maior superfície devastada: 774,5 mil hectares,ou 84% do total. Apesar de expressivo,o número representa queda de 72% em relação ao ano anterior. Roraima sozinho foi responsável por mais da metade da destruição (415 mil hectares). Uma explicação é que lá vigora um regime de chuvas distinto. Em seguida,aparecem Pará (208,6 mil) e Maranhão (123,8 mil). Os três estados respondem por 81% da área queimada.
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É auspiciosa a redução de 86% na superfície devastada pelo fogo no Pantanal,região que nos últimos anos tem sofrido com os incêndios. Em contraste,o Cerrado continua a preocupar. Foram destruídos 91,7 mil hectares,aumento de 12% em relação ao primeiro trimestre de 2024. Foi o único bioma a registrar aumento. O Cerrado concentra uma das principais fronteiras agrícolas e tem desafiado as promessas de reduzir as queimadas.
No início do ano,a ministra do Meio Ambiente,Marina Silva,assinou uma portaria estabelecendo estado de emergência ambiental em áreas vulneráveis a incêndios. O instrumento permite que governo federal,estados e municípios contratem brigadistas e implementem ações preventivas. A ideia é aumentar o pessoal de combate ao fogo em 25%. Embora sejam positivas,as medidas só foram anunciadas após a crise do ano passado,quando diferentes regiões arderam em chamas,alimentadas pela seca severa. Somente depois que Brasília foi tomada pela fumaça das queimadas o Planalto se deu conta da gravidade da situação.
A queda no desmatamento e o combate às queimadas foram bandeiras de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Não se pode dizer que não tenha havido avanço,como a redução da devastação na Amazônia. Mas a situação ainda está longe do razoável,como mostrou a calamidade das queimadas em 2024. O governo faz bem em fortalecer estados e municípios para enfrentar o fogo,mas faria melhor se investisse mais em treinamento de pessoal e fiscalização para coibir focos de incêndio. Agir depois é sempre pior. O problema está concentrado em determinas regiões,e isso deveria facilitar as ações. Por enquanto,tem chovido nessas áreas críticas. Mas há possibilidade de novas secas. O governo precisa estar preparado.