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Papa Francisco criou crise diplomática com a Turquia ao reconhecer o genocídio armênio na década passada

04-24 HaiPress

Memorial do Genocídio Armênio em Erevan — Foto: Filipe Barini

Poucas horas após o anúncio da morte do Papa Francisco,aos 88 anos,o primeiro-ministro da Armênia,Nikol Pashinyan,foi à rede social X expressar seu pesar pelo falecimento do Pontífice,declarando que sua “liderança destacada para termos um mundo justo e pacífico não pode ser esquecida”.

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Mais do que uma fala protocolar,os pêsames de Pashinyan vieram do primeiro país cristão do mundo,e que teve em Francisco um defensor da memória do genocídio sofrido há 110 anos,o que lhe causou problemas diplomáticos com a Turquia.

Como arcebispo Bergoglio em Buenos Aires,ele citou em mais de uma ocasião o genocídio armênio,falando não apenas à numerosa diáspora armênia na Argentina — a maior da América Latina —,mas também a todas as comunidades no país. Após ser escolhido o novo chefe da Igreja Católica,em 2013,suas palavras ganharam ainda mais força.

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Em 2013,durante reunião com o chefe do ramo armênio da Igreja Católica,Nerses Bedros XIX,no Vaticano,disse que o primeiro genocídio do Século XX "foi o dos armênios",uma afirmação repetida dois anos depois durante uma missa que marcava o centenário do massacre cometido pelo Império Turco Otomano,e que de acordo com historiadores deixou mais de 1,5 milhão de mortos.

Foto de crianças armênias na Turquia nos anos 1910,exposta no Memorial do Genocídio Armênio — Foto: Vanush Melkonyan / UGAB Brasil

Doze anos antes,o Papa João Paulo II havia feito argumento semelhante em uma visita a Erevan,mas citando a expressão armênia para o genocídio,“Mets Yeghern”. Apesar de não responder ao Vaticano,a Igreja Apostólica Armênia,majoritária no país,hoje mantém boas relações com a Santa Sé,e a Igreja Católica Armênia segue as orientações do Pontífice.

Ao não usar a ferramenta de linguagem de João Paulo II,Francisco havia tocado em um dos tópicos mais viscerais da política externa da Turquia.

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Segundo relatos oficiais,documentos históricos e imagens,muitas vezes registradas pelos próprios responsáveis pelos atos,o Império Turco-Otomano,já em processo de desmantelamento em meio à Primeira Guerra Mundial,deu início a uma política de perseguição contra a população armênia no país. A execução de homens,inclusive os que serviam no Exército,a deportação de mulheres e crianças rumo a áreas desérticas e a “turquificação” de menores em orfanatos se estendeu até 1923.

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A Turquia jamais reconheceu que as mortes e deportações forçadas foram um ato de genocídio,e acusou historiadores e autoridades armênias de inflarem os números de mortos,afirmou que muitas das mortes ocorreram no contexto da guerra e apontou para supostos episódios de violência de armênios contra turcos no período — em 1999,um memorial foi erguido na cidade de Igdir para “lembrar os massacres e perseguição cometidos pelos armênios” na região antes e durante a Primeira Guerra.

Hoje,são poucos os países que reconhecem o genocídio armênio — o Brasil não está na lista —,e ao usar a palavra para descrever este capítulo da História,o Papa Francisco abriu uma crise diplomática com Ancara.

— A questão é principalmente política e está relacionada à Turquia,que está bloqueando ou tentando bloquear todos os processos de reconhecimento [do genocídio] em todo o mundo — afirmou ao GLOBO Edita Gzoyan,diretora do Museu-Instituto do Genocídio Armênio,em Erevan. — Em alguns casos,a pressão é política,em outros econômica. E também talvez não haja muito interesse por parte dos Estados em confrontar a Turquia para reconhecer as injustiças que aconteceram a outros povos. Mas,geralmente,não se trata de armênios ou turcos,mas da humanidade como um todo.

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Na ocasião,o governo turco retirou seu embaixador na Santa Sé,deixando o posto vago por dez meses,e o então chanceler,Mevlut Cavusoglu,disse que “as declarações do Papa,que estão distantes da realidade legal e histórica,não podem ser aceitas”.

“Autoridades religiosas não são os lugares para se incitar ressentimentos e ódio com alegações sem base”,completou Cavusoglu,em publicação no X.

Veja a trajetória do 266º Papa como sacerdote católico

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Foto de outubro de 2003 do cardeal de Buenos Aires Jorge Mario Bergoglio,antes de se tornar Papa — Foto: AFP PHOTO / Patrick HERTZOG

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Cardeal Jorge Mario Bergoglio conversa com um homem no metrô de Buenos Aires em 2009 — Foto: AP Photo/Courtesy of Sergio Rubin

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Arcebispo Jorge Bergoglio durante uma missa de Quarta-feira de Cinzas,que abre a Quaresma,na Catedral Metropolitana de Buenos Aires,Argentina,em fevereiro de 2013 — Foto: AFP PHOTO/JUAN MABROMATA

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Papa Francisco na janela da Basílica de São Pedro após ser eleito o 266º papa da Igreja Católica Romana em 13 de março de 2013 — Foto: AFP PHOTO / ANDREAS SOLARO

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Papa Francisco celebrando uma missa na Capela Sistina,em 14 de março de 2013,um dia após sua eleição — Foto: AFP PHOTO/OSSERVATORE ROMANO

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Papa Francisco cumprimenta presidente Dilma Roussef em visita ao Rio de Janeiro para sua primeira Jornada Mundial da Juventude como pontífice — Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo

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Papa Francisco na Avenida Atlantica,em Copacabana,de Papamómel — Foto: Bruno Gonzalez / EXTRA / Agência O Globo

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Peregrinos lotam a praia de Copacabana para assisir à Via Sacra e o discurso do Papa Francisco — Foto: Paula Giolito / agencia O Globo

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Papa Francisco visita a Basílica de Aparecida,no estado de São Paulo — Foto: Eliária Andrade / Agência o Globo

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O Papa Francisco da bênção "Urbi et Orbi" para Roma e o mundo,do balcão da Basílica de São Pedro,após a missa de Domingo de Páscoa,em 27 de março de 2016 — Foto: AFP PHOTO / ALBERTO PIZZOLI

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Papa Francisco lendo um livro para crianças refugiadas sírias na Casa Santa Marta,no Vaticano — Foto: AFP PHOTO / OSSERVATORE ROMANO

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Papa Francisco participa da tradicional Bênção das Velas na Capela das Aparições,no Santuário de Fátima,em Portugal e no dia 13 de maio de 2017 declarou Jacinta e Francisco Marto como santos — Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP PHOTO

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O Papa Francisco participa de uma atividade na Nunciatura em Bogotá,em 7 de setembro de 2017,durante sua visita de cinco dias à Colômbia para promover a paz após 50 anos de conflito no país — Foto: AFP PHOTO / JOHN VIZCAINO

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Papa Francisco cumprimenta refugiado rohingya durante uma reunião inter-religiosa em Dhaka,Bangladesh,em 1º de dezembro de 2017 — Foto: AFP PHOTO / Vincenzo PINTO

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Papa Francisco participa de missa no Vaticano durante o último dia da cúpula global sobre proteção infantil e a crise de abusos na Igreja Católica,em 24 de fevereiro de 2019 — Foto: GIUSEPPE LAMI / POOL / AFP

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Papa Francisco recebe busto de bronze de Ayrton Senna,presente do sobrinha do piloto,Paula Senna Lalli,ao final da audiência geral no Vaticano,em 17 de abril de 2019 — Foto: VATICAN MEDIA / AFP

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Papa Francisco recebe uma planta de indígena amazônico durante a missa de encerramento do Sínodo para a Amazônia,na Basílica de São Pedro — Foto: Andreas SOLARO / AFP

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Papa Francisco chega ao Salão das Bençãos,de máscara,antes de conceder a benção "Urbi et Orbi" em transmissão ao vivo durante a pandemia do Covid-19,em dezembro de 2020 — Foto: AFP PHOTO / VATICAN MEDIA

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Papa Francisco conversa com uma enfermeira no Hospital Gemelli,em Roma,após se recuperar de uma cirurgia de colón,em 11 de julho de 2021 — Foto: VATICAN MEDIA / AFP

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Papa Francisco e presidente Lula em audiência privada no Vaticano em 2023 — Foto: AFP PHOTO / HANDOUT / VATICAN MEDIA

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Publicidade Nascido Jorge Mario Bergoglio,na Argentina,Papa Francisco se tornou o primeiro Papa originário da América Latina

Francisco pareceu não se intimidar. Em 2016,ele visitou a Armênia,e uma árvore foi plantada em nome da Santa Sé no jardim do Memorial ao Genocídio,uma prática de líderes e representantes estrangeiros que visitam o local. Ele ainda mudou,de última hora,declarações que faria sobre o tema,trocando a expressão armênia,usada pelo Papa João Paulo II,para “genocídio” em italiano.

— Tristemente,essa tragédia,esse genocídio,foi o primeiro de uma série de deploráveis catástrofes no século passado,possibilitadas por objetivos raciais,ideológicos ou religiosos que obscurecem as mentes de seus realizadores a ponto de planejarem a aniquilação de povos inteiros — afirmou o Pontífice.

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Em resposta,um então vice-premier turco,Nurettin Canikli,disse que Francisco tinha “mentalidade de Cruzado”,e que o uso do termo “não corresponde à verdade”. Federico Lombardi,então porta-voz do Vaticano,afirmou que “o Papa não estava travando uma Cruzada”,que não havia dito nada para ofender a Turquia.

Nesta segunda-feira,o presidente turco,Recep Tayyip Erdogan,se disse “profundamente entristecido” com a morte do Pontífice,e elogiou seus esforços como estadista e líder espiritual,citando suas iniciativas “diante de tragédias humanitárias”,chamando o conflito na Faixa de Gaza,onde mais de 51 mil pessoas morreram,de “genocídio”.

Em março,quando Francisco ainda estava internado em um hospital de Roma para tratar uma pneumonia dupla,o Vaticano chegou a confirmar que ele faria uma viagem à Turquia já programada para maio,quando celebraria os 1,7 mil anos do Conselho de Niceia,o primeiro Concílio Ecumênico da Igreja Católica.

O jornalista viajou à Armênia a convite da UGAB Brasil (União Geral Armênia de Beneficiência)

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