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Maior tragédia humanitária do mundo é a fome que aflige Sudão

01-03 IDOPRESS

Mulheres que fugiram da guerra no Sudão aguardam ajuda internacional em campo de refugiados no Chade — Foto: Mohaned BELAL / AFP

Enquanto o mundo presta atenção às vítimas dos conflitos na Ucrânia ou no Oriente Médio,a maior tragédia humanitária do planeta passa despercebida. Ela ocorre na África,mais especificamente no Sudão,onde 26 milhões,cerca de metade da população,padecem com falta de comida,e 10 milhões sofrem de “insegurança alimentar grave” — eufemismo para fome. “Nunca na História moderna tanta gente passou fome como hoje no Sudão”,afirma relatório da ONU.

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Ex-colônia britânica,com forte influência do Egito,o Sudão se tornou independente em 1956 e,desde então,vive em instabilidade. Na origem da crise atual está uma guerra civil entre as forças oficiais e milícias de várias etnias. Depois de frequentar o noticiário no início dos anos 2000,em razão dos conflitos que resultaram no genocídio de Darfur,o Sudão ainda preocupa as agências humanitárias,mas não mobiliza a opinião pública. O presidente americano,Joe Biden,fez um apelo aos grupos em luta para que permitam o acesso à população e para que parem de matar civis. Não foi ouvido. Não houve qualquer clamor de outros países em prol da população civil indefesa.

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O conflito étnico já matou pelo menos 24 mil pessoas e tornou o Sudão palco de um dos maiores deslocamentos involuntários da História recente. Dezenas de milhões foram forçados a abandonar suas casas. A violência prejudica a colheita,inflacionando os alimentos. Mesmo produtos básicos estão fora do alcance do sudanês médio. A fome no Sudão é descrita como “maior catástrofe humanitária do mundo” por Alex Marianelli,diretor do programa de alimentos da ONU para o país.

Para piorar,não é fácil levar ajuda à população. A guerra atravanca o deslocamento. O choque entre forças militares e milícias bloqueia o transporte de alimentos e remédios enviados por agências internacionais. Há ações deliberadas de milícias para impedir a ajuda. Em setembro,a organização Médicos sem Fronteiras (MSF) foi forçada a suspender por mais de uma semana o tratamento de 5 mil crianças desnutridas em Darfur do Norte,em razão de bloqueios e obstruções de estradas.

Refugiados tentam fugir em direção ao vizinho Chade. Num campo de sudaneses que escaparam da guerra,mesmo sob cuidados médicos,sete crianças morreram de desnutrição entre maio e setembro. Noutro campo administrado pelo MSF,havia 340 casos de desnutrição severa. “Neste momento,pessoas morrem de fome por causa de homens com armas e poder que têm negado comida a mulheres e crianças”,diz Jan Egeland,responsável pelo Conselho de Refugiados da Noruega. Ele acusa os grupos em conflito de bloquear as remessas das organizações internacionais.

No início de 2024,por falta de recursos,o Programa Mundial de Alimentos teve de cortar pela metade a remessa a campos de refugiados sudaneses no Chade. É inaceitável que a dor e o sofrimento dos milhões de sudaneses sejam desprezados. A comunidade internacional deveria dedicar tanto tempo e energia ao conflito no Sudão quanto tem dedicado a outras guerras.

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