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Entenda como declínio em espécies de abutres provocou meio milhão de mortes na Índia

07-27 HaiPress

Abutres selvagens alimentam-se de galinhas mortas na Reserva Biológica Campanarios de Azaba,perto de La Alamedilla,Espanha,17 de abril de 2014 — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 27/07/2024 - 04:30

Declínio dos Abutres na Índia: Impacto na Saúde Pública

Na Índia,o declínio dos abutres devido ao uso de medicamentos veterinários causou 500 mil mortes em cinco anos. A ausência dessas aves levou ao aumento de bactérias e infecções,resultando em prejuízos econômicos e mortalidade humana. O estudo destaca a importância de proteger a vida selvagem para manter o equilíbrio e a saúde dos ecossistemas.

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Os abutres,geralmente associados à morte e cadáveres,podem estar mais ligados à saúde do que se imagina. Um estudo publicado na American Economic Assoiation observou que na Índia,onde essas aves eram abundantes e onipresentes,as mortes em massa de três espécies de abutres,provocadas pelo uso de um medicamento para tratar vacas doentes,acarretaram também na morte de cerca de 500 mil pessoas ao longo de cinco anos (2000-05). Por funcionarem como "o serviço de saneamento da natureza",seu sumiço provocou a proliferação de bactérias e infecções mortais.

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O coautor do estudo citado pela BBC,Eyal Frank,explicou que os abutres desempenham um papel importante na remoção de animais mortos "que contêm bactérias e patógenos do nosso ambiente",destacando que,sem as aves,"as doenças podem se espalhar".

— Entender o papel que os abutres desempenham na saúde humana ressalta a importância de proteger a vida selvagem,e não apenas os fofos e bonitinhos — enfatizou o professor assistente da Harris School of Public Policy da Universidade de Chicago. — Todos eles têm um trabalho a fazer em nossos ecossistemas que impacta nossas vidas.

100 mil mortes por ano

Os abutres começaram a desaparecer na Índia há mais ou menos duas décadas devido ao uso veterinário do diclofenaco em vacas. As aves que se alimentavam da carcaça de gado tratado com esse medicamento sofriam com insuficiência renal e morriam. Em meados da década de 1990,a população de 50 milhões dessas aves despencou para quase zero devido ao medicamento. Com a proibição do diclofenaco em algumas regiões em 2006,o declínio atenuou,mas pelo menos três espécies sofreram perdas de 91-98% a longo prazo,segundo relatório do Estado das Aves da Índia,também citado pela rede britânica.

Frank e Anant Sudarsh,que também é coautor do estudo,compararam as taxas de mortalidade humana em distritos indianos no qual a presença de abutres era abundante com aqueles que historicamente apresentavam populações menores,ou seja,populações pequenas tanto antes quanto depois da morte em massa. Os pesquisadores descobriram que,depois que a venda do medicamento aumento e as populações dos abutres caíram,as taxas de mortalidade humana aumentaram em 4% nos distritos em que a presença da ave era abundante.

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Os pesquisadores observaram que,entre 2000 e 2005,a morte de abutres causou 100 mil mortes humanas adicionais a cada ano e pelo menos US$ 69 bilhões em prejuízos por mortalidade ou custos econômicos associados a mortes prematuras. Eles também observaram que o impacto foi maior em áreas urbanas com grandes populações de gado,onde o despejo de carcaças eram mais comuns.

Entre as espécies que sofreram as maiores perdas — 98%,95% e 91% — desde o início dos anos 2000 estão o abutre-de-garganta-branca,o abutre-indiano e o abutre-de-cabeça-vermelha,respectivamente.

— O colapso dos abutres na Índia fornece um exemplo particularmente gritante do tipo de custos difíceis de reverter e imprevisíveis para os humanos que podem advir da perda de uma espécie — destacou Sudarsh,que também é professor associado da Universidade de Warwick,à BBC.

Declínio mais rápido já registrado

O estudo também observou os dados relacionados às vendas de vacina contra raiva,a contagem de cães selvagens e níveis de patógenos no abastecimento de água. Os pesquisadores notaram que,com a morte dos abutres,o número de cães vadios aumentou,o que contribuiu para levar raiva aos humanos. No mesmo período,eles observaram que a venda de vacinas contra raiva também aumentou,mas foi insuficiente.

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Diferentemente dos abutres,os cães de rua não são tão eficazes na limpeza do ambiente quando se trata de organismos em decomposição,o que leva ao espalhamento de bactérias e patógenos na água potável através do escoamento e de métodos de descarte inadequados. As bactérias na água,segundo o estudo,mais do que dobraram.

O declínio dos abutres na Índia foi o mais rápido já registrado para uma espécie de pássaro e o maior desde a extinção do pombo-passageiro nos EUA,segundo os pesquisadores. As aves eram usadas por fazendeiros para ajudar a remover rapidamente as carcaças de gado (na Índia,há mais de 500 milhões desses animais,contabilizando a maior população do mundo,segundo o censo de gado de 2019,citado pela BBC).

Atualmente,os abutres vivem concentrados em espécies protegidas,com uma dieta restrita aos cadáveres da vida selvagem,segundo o relatório State of Indian Birds,também citado pela rede. Frank e Sudarsh também alertaram que medicamentos veterinários continuam sendo uma grande ameaça,somados à disponibilidade cada vez menor de carcaças por conta do aumento do número de enterros e à concorrência com cães selvagens. Mineração e exploração de pedreiras também podem impactar os locais para acasalamento de algumas espécies.

Não é possível dizer com certeza se os abutres voltarão a aparecer,mas há dados positivos. No ano passado,segundo a BBC,20 abutres criados em cativeiro e com etiquetas (para monitoramento) foram soltos em uma reserva de tigres em Bengala Ocidental. Recentemente,continuou a rede,mais de 300 foram registrados em uma pesquisa no sul do país.

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