'Imediatamente, se não antes'
08-10 HaiPress
Simone Biles faz reverência a Rebeca Andrade,medalha de ouro na Olimpíada de Paris — Foto: Paul ELLIS / AFP
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 10/08/2024 - 04:30
Política dos EUA: entre elegância e agressividade.
Atacar o "homem comum" é o pior erro que Trump pode cometer. Fair play,gentileza e respeito são destacados nos Jogos Olímpicos. A elegância é essencial,contrastando com a postura agressiva do ex-presidente. A política dos EUA enfrenta uma divisão entre "bizarros" e "comuns",com a esperança de um retorno à normalidade. A vitória de Kamala e Walz não garante estabilidade democrática. O futuro do país depende da batalha entre extremos no Partido Republicano.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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A expressão fair play pode ser traduzida por “jogo limpo”. Contudo,é um pouco mais do que isso. Ter fair play implica não apenas competir com honestidade,mas também admirar e respeitar os adversários,e saber perder — isto é,aceitar a derrota com elegância. Festejar a vitória com elegância pode ser ainda mais difícil.
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Um maravilhoso exemplo de fair play nos Jogos Olímpicos de Paris foi a vênia que as ginastas norte-americanas Simone Biles (prata) e Jordan Chiles (bronze) dirigiram a Rebeca Andrade quando esta subiu ao pódio para receber o ouro. As fotografias de Simone e Jordan com um joelho no chão,sorrindo luminosamente,enquanto Rebeca ergue os braços,perdurarão como um testemunho de gentileza,generosidade e espírito olímpico.
Elegância,gentileza,generosidade,espírito olímpico,além da honestidade e do respeito e admiração pelo adversário — tudo isto me parece importante,não só no desporto como na vida em geral e,em particular,na vida política.
A feroz irrupção de Donald Trump no universo da política,em 2015,representou um atentado contra todas estas qualidades — em especial a elegância. Tim Walz,governador do Minnesota e candidato à vice-presidência dos EUA pelo Partido Democrata,compreendeu isto muito bem ao definir Trump como um “sujeito bizarro”.
Trump reagiu,classificando Walz como um “perigoso esquerdista”. Dias depois,acusou Kamala e Walz de serem comunistas: “eles querem que este país se torne comunista imediatamente,se não antes.”
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Acusar Walz de ser um “perigoso comunista” soa tão ridículo quanto descrever um gato como um “perigoso ofídio”. O governador do Minnesota,com aquele ar de avô em férias,e um discurso firme mas pacificador,é percebido pela maioria das pessoas como um “homem comum”.
Ao dividir o campo político entre “sujeitos bizarros” e “pessoas comuns”,Walz marcou pontos. Atacar o “homem comum”,pelo contrário,é o pior erro que Trump pode cometer neste momento.
Os americanos,como aliás os brasileiros e os europeus,vêm demonstrando cansaço diante do clima de ódio,do permanente estado de guerra e de divisão,que a extrema direita,com a importante contribuição dos algoritmos das redes sociais,instalou no nosso comum cotidiano. Tudo o que a maioria quer é regressar à normalidade das pessoas comuns.
Entre os republicanos há quem esteja consciente da armadilha que Trump representa para o destino do partido. O problema é que não se pode pedir a Trump que passe a ser,digamos,uma “pessoa comum”. Trump é por natureza um corpo estranho,uma doença no organismo social. Por outro lado,o próprio Partido Republicano foi quase inteiramente tomado por “sujeitos bizarros”.
A partir do momento em que Biden se afastou da corrida,as probabilidades de Trump retornar à Casa Branca diminuíram. Contudo,uma previsível vitória de Kamala Harris e de Tim Walz não assegura por si só a normalidade democrática. A derrota de Trump dará início a uma batalha violenta no seio do Partido Republicano,entre os estranhões e as pessoas comuns. O destino dos EUA depende em larga medida de quem ganhar essa batalha. Esperemos que triunfem o fair play e a inteligência. Imediatamente,se não antes.