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Os ruídos em torno da transição no BC

09-03 HaiPress

O presidente do BC,Roberto Campos Neto,e o diretor de Política Monetária,Gabriel Galípolo — Foto: Cristiano Mariz

RESUMO

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GERADO EM: 03/09/2024 - 04:31

Ruídos na transição do BC geram incertezas nos mercados

Os ruídos na transição do Banco Central geram oscilações nos mercados. Não há divisão interna,mas interpretações equivocadas. Galípolo e Campos Neto enfatizam diferentes aspectos econômicos. Galípolo enfrentará desafios para manter independência. O cenário fiscal complicado traz incertezas. Em setembro,o Senado decidirá sobre a sabatina de Galípolo. A interpretação equivocada de suas declarações alimenta a confusão no mercado. A análise mostra inexistência de divisão no BC.

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Há um fato afetando preços no mercado financeiro,principalmente nos juros futuros,que é artificial,gerado por interpretações. Não há conflito nem duplo comando no Banco Central. O presidente atual,é quem comandará as próximas três reuniões e,apesar de muitos analistas terem visto uma posição branda de Campos Neto e outra mais dura de Gabriel Galípolo,eles têm dito a mesma coisa. Não haverá pré-indicação do que acontecerá em setembro,nem nas reuniões seguintes. Portanto,sem forward guidance.

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Desde a entrevista que Roberto Campos Neto me concedeu aqui no GLOBO,e depois com as seguidas declarações de Gabriel Galípolo de que os juros poderão subir,se necessário,formou-se uma corrente majoritária entre os analistas de que há um racha no BC. Mas uma análise mais objetiva das falas de cada um,e dos diretores que eventualmente têm se pronunciado em público,como Diogo Guillen na PUC-Rio na última quinta-feira,é a de que o cenário externo teve uma melhora,mas no Brasil a inflação está mais resistente e as projeções têm subido. E,por isso,o Banco Central quer se deixar livre para tomar decisões nas reuniões. E,se for necessário,os juros podem subir. Isso até o presidente Lula já disse com todas as letras.

Há ruídos no mercado e a pressão para que os integrantes da diretoria voltem a falar,para confirmar a impressão de que há um conflito,com o atual presidente na posição “dovish”,ou seja,favorável à manutenção de juros,e o futuro presidente na posição “hawkish”,pela subida. Uma estranha coreografia em que eles teriam alternado a posição. O que ocorre é que ambos dão ênfase a uma parte da conjuntura. Galípolo focou na economia doméstica,mais aquecida e com sinais preocupantes na inflação — o acumulado em 12 meses está perto do teto da meta mesmo com a deflação de agosto. Já Campos Neto na situação internacional em que aumentaram os sinais de um pouso suave.

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O dólar tem respondido a uma situação internacional,mas é fato que a moeda que mais tem oscilado é a brasileira. Em parte por estarmos em terreno desconhecido: esta é a primeira transição do Banco Central autônomo. O debate em torno do BC foi muito politizado e esse é um tempo de polarização em que tudo cai numa briga de torcidas. Só que a política monetária precisa se blindar contra isso. Sua função é ser o mais objetiva possível para evitar que se confirmem previsões de alta de inflação.

Há outro complicador na conjuntura que é a política fiscal. Os esforços do ministro Fernando Haddad e da ministra Simone Tebet para fechar um orçamento com equilíbrio são grandes,mas alguns fatos alimentam a avaliação de perigo nas contas públicas. O salto que houve no vale-gás anula parte do esforço feito pelo pente-fino em despesas previdenciárias e assistenciais,com a complicação de que veio com um drible fiscal. O dinheiro da venda de óleo de gás que cabe à União irá direto para a Caixa,sem passar pelo Tesouro. Isso pode acabar no TCU.

O orçamento foi para o Congresso com uma grande aposta em arrecadação incerta. Está difícil eliminar isenções e benefícios fiscais para as empresas. O presidente da Câmara dos Deputados avisou ao mercado financeiro que será difícil passar qualquer aumento de Juros sobre Capital Próprio (JCP) ou da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). A demagogia feita na Câmara dos Deputados na Reforma tributária ficou cara demais e o Senado tentará reverter isso em parte,mas terá dificuldades. Juntando todas as peças,o quadro fiscal ficou mais complexo nos últimos meses.

Nesse ambiente entramos em setembro. Galípolo conversando com senadores sobre sua indicação. Mas é do Senado o poder de decidir se a sabatina será antes ou depois da próxima reunião do Copom,marcada para os dias 17 e 18. O mercado financeiro tenta destrinchar cada palavra que venha do BC para comprovar as teses de divisão,duplo comando ou comunicação contraditória. E nisso,dólar e juros futuros oscilam.

A frase de Galípolo tão explorada em vários veículos não especializados — “acho que estou me expressando mal ou sendo mal interpretado” — foi entendida como um recuo. Frases assim são ruins porque tudo o que precisa ser explicado alimenta o ruído. Só que a interpretação de que ele estava recuando não faz sentido. Enfim,erra na análise quem aposta na existência de uma divisão dentro do Banco Central neste momento,por tudo o que eu pude apurar.

(Com Ana Carolina Diniz)

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