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Crítica: mestre do thriller 'me-engana-que-eu-gosto', Joël Dicker mostra engenhosidade em novo livro

11-25 HaiPress

Assalto a uma joalheria suíça desencadeia a trama de um dos mais bem-sucedidos escritores dos últimos tempos — Foto: Unsplash/Prahant Photo

RESUMO

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GERADO EM: 22/11/2024 - 20:35

Mestre do thriller Joël Dicker surpreende com "Um animal selvagem"

Joël Dicker,mestre do thriller,surpreende com novo livro "Um animal selvagem",trazendo poucos personagens em trama repleta de reviravoltas em Genebra. Com narrativa envolvente e estratégias de enlouquecer leitores,o autor mantém o suspense e a diversão garantida,afastando da realidade os problemas do dia a dia. Em meio a intrigas,sedução e mentiras,Dicker demonstra engenhosidade ao explorar o passado e o presente dos personagens,sem pressa,mas mantendo o interesse do leitor em alta.

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Joël Dicker ataca novamente. Aos 39 anos,o suíço lança seu sexto romance,mais um thriller na linha me-engana-que-eu-gosto,da qual ele já se mostrou um mestre. Tem sido assim desde “A verdade sobre o Caso Harry Quebert” (2012),que rendeu prêmios importantes,como o Goncourt,o mais cobiçado da França,e vendeu três milhões de exemplares em todo o planeta,com tradução para 32 idiomas. Depois ele lançou outros,mas nada tão surpreendente quanto “A verdade...”,que até virou série no streaming. Agora,com “Um animal selvagem”,Dicker parece disposto a mostrar que sua engenhosidade ainda merece atenção geral.

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Sabe aqueles livros com frases inspiradoras,manifestos identitários,experimentações e,enfim,literatura da pesada? Não é o caso. Joël Dicker troca todos esses legítimos caprichos pelo entretenimento leve — o que não é menos legítimo,só para irritação da crítica intelectualizada que tem preconceito contra romances policiais.

Desta vez,o narrador de Dicker (anônimo e deveras enganador) parte de um assalto a uma joalheria em Genebra,2022. A cidade,como se sabe,não tem índices cariocas de criminalidade nem bandidos tão descarados. Daí a repercussão alcançada pelo tal roubo de joias,perpetrado por apenas dois meliantes ao longo de sete minutos. Eficiência suíça.

Essa situação aparentemente comum — em thrillers,claro — vai desencadear quase 400 páginas de idas e vindas no tempo,recurso com que Dicker tenta enlouquecer os leitores mais cartesianos. Não é de hoje que ele faz isso,e sempre funciona.

Sob medida para o streaming

No centro das atenções de “Um animal selvagem” está o casal Braun. Arpad é do mercado financeiro e Sophie é advogada de primeira linha. Chegando aos 40 anos de idade,são ricos com força. Moram numa luxuosa casa de vidro margeada por um bosque a 15 minutos do centro de Genebra,têm um casal de filhos fofinhos e,por essas e outras,são felizes. Ela é apaixonadíssima por Arpad,e vice-versa. Diga-se,não por acaso,que Sophie é um mulherão,uma personagem construída com alta carga de sensualidade natural (ao menos,para os padrões europeus),criada sob medida para brilhar no streaming.

Pelas mãos do destino,os riquinhos se tornam muito amigos de uma família bem mais humilde que mora nas redondezas. Greg é policial experiente e a mulher,Karine,é vendedora de loja. Vivem num conjunto de casas apelidado de Verruga por ser considerado uma excrecência em meio a um bairro tão nobre. Também têm dois filhos,e o casamento deles anda periclitando.

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Só que Greg fica de olho grande para cima de Sophie,passa a espioná-la por esporte,flagra à distância o casal em suas intimidades domésticas e assim vai tocando a vida de voyeur apaixonado e não correspondido. E é então que percebe que existe alguém mais vigiando de perto o casal de amigos...

Até chegar a este ponto da conversa,Dicker já gastou muito papel e tinta. Ele não tem pressa para mandar qualquer mensagem (que talvez nem exista). Assim,conduz o leitor até o limite da sonolência — e é justamente nesse ponto que apronta uma reviravolta para postergar a soneca do cliente e manter seu interesse em alta.

É assim que ficamos sabendo,por exemplo,que Arpad já foi para a cadeia por causa de uma treta misteriosa cometida no passado,ou que Greg tem um caso com uma policial,ou que o pai de Sophie é rico... E por aí vai o autor,sempre transitando entre o passado e o presente da narrativa,mas acelerando a ação à medida que a resolução do caso vai se aproximando. E haja espaço para sedução,surpresinhas,intrigas e mentiras deslavadas.

Nessa trama bem (em)bolada,Dicker mostra habilidade ao dispor de apenas meia dúzia de personagens,em vez de povoar o livro com nomes e subtramas inúteis. Além disso,seu jogo literário é honesto: ele promete que,se o leitor ficar com a antena ligada nas artimanhas da narrativa,a diversão estará garantida,deixando temporariamente longe os problemas que atordoam a vida real,essa espécie de thriller do qual não se escapa tão facilmente.

‘Um animal selvagem’

Autor: Joël Dicker. Tradução: Debora Fleck. Editora: Intrínseca. Páginas: 396. Preço: R$ 79,90. Cotação: bom.

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