Irmão de Jenni Hermoso relata que jogadora sentiu 'nojo' no beijo forçado e que ex-técnico tentou suborná-lo
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Jenni Hermoso chega para julgamento de Luis Rubiales em Madri — Foto: Thomas COEX / AFP
RESUMO
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Julgamento por agressão sexual no futebol: depoimento impactante e condenação.
O julgamento do ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol por agressão sexual à jogadora Jenni Hermoso teve depoimento impactante de seu irmão. Relatou-se pressão,tentativa de suborno e coação para abafar o caso após o beijo forçado. O ex-presidente foi proibido de exercer cargos no futebol e enfrenta pena de dois anos e meio de prisão.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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O julgamento de Luis Rubiales,ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF),pelos crimes de agressão sexual e coerção,por ter beijado à força jogadora espanhola Jenni Hermoso e tentado impedir que ela se pronunciasse sobre o caso,começou na última segunda-feira (3),em Madri. O processo está em fase de oitiva das testemunhas e,nesta quarta-feira,o irmão da atleta,Rafael Hermoso,deu mais detalhes sobre o que aconteceu nos momentos seguintes ao episódio.
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O caso aconteceu em 20 de agosto de 2023,na cerimônia de entrega de medalhas para a Espanha,que havia acabado de conquistar a Copa do Mundo Feminina,em Sidney. Uma das pessoas que estava distribuindo as medalhas às atletas era Rubiales e,na vez de Hermoso,ele agarrou seu rosto e a beijou à força. "Quando acabou o jogo e descemos para ver as jogadoras,Jenni fez uma pausa e me disse: 'Viu que ele me deu um beijo? Me deu nojo'. Eu não vi o beijo,vi Jenni desnorteada e com raiva",contou Rafael.
A repercussão do caso foi imediata,segundo ele: logo começou uma movimentação da RFEF para tentar abafar a situação. Rafael afirmou que,antes mesmo de entrar no avião que levaria a equipe e convidados de volta à Espanha,a coação à irmã começou: "No aeroporto,colocaram Jenni em uma sala para pressioná-la. Meio chorando e com o rosto abatido,ela nos disse que estavam pressionando para que ela se posicionasse e menosprezasse a importância do beijo antes de embarcar".
Já dentro da aeronave,em que também estavam integrantes da RFEF e o técnico Jorge Vilda,o irmão de Jenni contou que só a viu uma vez. Rafael também afirmou que não havia muita interação entre dirigentes e parentes de jogadoras e por isso se surpreendeu quando o treinador foi até ele três vezes para conversar. Na terceira,quando Vitoriano Martín,amigo de Jenni,também estava presente,Vilda trouxe à tona o beijo forçado.
"Ele disse que o presidente lhe pediu para falar comigo,para ver se minha irmã poderia sair em Doha (escala do voo) com Rubiales para fazer um vídeo e acalmar as águas. 'É o melhor para todos',afirmou. Vilda me disse que,se eu não colaborasse,não sabia o que poderia acontecer. O tom mudou para pior quando eu falei que,se minha irmã afirmou que não faria o vídeo,ela não ia fazer. Vilda viu minha reação,repetiu sobre o estado das filhas do presidente (chorando) e que Rubiales poderia perder o cargo. Ele disse literalmente: 'Com todo o bem que a Federação fez para a sua irmã,seria o mínimo e o justo a se fazer'",relatou Rafael.
O irmão de Jenni disse ainda desconhecer qualquer tratamento preferencial da RFEF à irmã,e contou que o treinador tentou até suborná-lo para fazê-lo mudar de lado. "Ele me falou que se eu colaborasse,por conta da minha experiência com a seleção,eu poderia ter uma vaga na federação. Mas se não,as coisas não iriam ficar bem para ela. Antes de Vilda ir embora,eu disse a ele que iria ver minha irmã,para ver como ela estava. A última coisa que ele me falou foi para considerar as consequências que isso poderia ter para Jenni",contou.
Quando Rafael reencontrou a irmã,ele a viu "com os olhos inchados de tanto chorar". Ela pediu para que ele não respondesse nada caso fosse questionado pela imprensa,porque "tinha claro que queria que o foco fosse para o triunfo e o título,e que queria proteger suas companheiras". Vitoriano Martín explicou que eles acessaram a internet durante o voo e assim ficaram sabendo da proporção que o caso ganhava. O irmão de Jenni Hermoso esclareceu ainda que,quando afirmou não saber das pressões sobre a jogadora ao desembarcar na Espanha,mentiu para protegê-la de possíveis represálias da RFEF.
Em setembro de 2023,Jorge Vilda foi demitido do cargo de treinador da seleção feminina,dois anos depois de um grupo de 15 jogadoras demonstrarem insatisfação com suas atitudes. Rubiales renunciou à presidência da RFEF após pressão popular e foi proibido pela Fifa de exercer qualquer cargo no futebol,nacional e internacionalmente,por três anos. No mesmo mês,Hermoso denunciou Rubiales à Fiscalía,órgão espanhol equivalente ao Ministério Público. A denúncia foi aceita,e o órgão expediu uma ordem de restrição determinando que o ex-presidente não fique a menos de 200m da atleta.
Rubiales responde a um processo criminal por duas infrações: agressão sexual — a legislação da Espanha enquadra todo tipo de contato físico não consentido nesta tipificação penal — e coerção,e a Promotoria pede dois anos e meio de prisão como pena. Vilda,Albert Luque (ex-diretor desportivo da seleção feminina) e Ruben Rivera (antigo responsável pelo marketing da RFEF) são acusados de coerção,com a pena pedida de um ano e meio de prisão. Eles negam as acusações.
A fase de oitiva das testemunhas começou na última segunda-feira e,além de Rafael e da própria Jenni Hermoso,já foram ouvidos dirigentes e jogadoras da seleção feminina. Os depoimentos têm até três semanas para serem finalizados,e o juiz do caso espera que o processo tenha uma conclusão em 19 de fevereiro.